Brasília - Há 83 anos, a revolução eclodiu em 3 de outubro e durou 21 dias até a deposição do presidente Washington Luís de Sousa e a seguir, a posse de Getúlio Vargas, em 3 de novembro. Ao Norte do Paraná, os combates ocorreram entre Jacarezinho e Sengés, mas houve substancial arregimentação em São Roque (mais tarde Tamarana), 365 homens, em coordenação com outras forças, que poderiam intervir ao longo do médio e baixo Tibagi.
É o que revelam depoimentos e mensagens no livro "Árduos Caminhos", de Guida Maria de Menezes Deliberador (edição da autora – 2011). São documentos que estavam inéditos, entregues pela família de Euzébio de Menezes à Universidade Estadual de Londrina (UEL).
Em 8 de outubro de 1930, o coronel comandante do Destacamento Oeste, com a sede em Queimadas, João Henrique Domingues, informa ao comandante da Praça de São Roque, senhor Euzébio de Menezes, "ter feito seguir para São Jerônimo, indo pelo Lajeado Liso, contingente de 22 homens armados e municiados com destino àquela Praça".
Queimadas (atualmente Ortigueira), divisa com o povoado de Lajeado Liso (hoje bairro de Sapopema), onde o Rio Tibagi permite a travessia por canoas. A neutralidade do prefeito e coronel da Guarda Nacional Deolindo Corrêa de Mello em São Jerônimo era o alvo dos revolucionários.
Na mensagem a Euzébio, Domingues informa que o comandante civil em São Jerônimo, Lucas de Azevedo Marques, "estivera em Tibagi pedindo urgentes reforços (...) a fim de ser guarnecida aquela praça, ameaçada de ser tomada por elementos vindos de São Paulo pelo Jataí". Entretanto, Lucas já fora substituído por Sebastião Veiga e este, sucedido por Manoel Linhares.
"De tudo isso, depreendo que, de fato, a situação aí é muito pouco clara. Deveis, entretanto, fazer junção com o contingente que fiz seguir, a fim de acampar e guarnecer aquela Praça, observando sempre que estamos reintegrando o Brasil certos das normas de Justiça e Liberdade, de que jamais teria saído."

Gritando viva a revolução
O Paraná tinha aderido em 5 de outubro, com a 5ª Região Militar comandada pelo major Plínio Tourinho, irmão do general Mário, que seria o primeiro interventor da revolução no Estado. Há indicativos de que a tomada de São Jerônimo (data não mencionada em livros) se deu quando a luta armada já tinha cessado e a revolução vitoriosa.
(...)"fui nomeado prefeito pelo general Mário Tourinho, o Dr. Manoel Linhares de Lacerda, que era promotor, foi nomeado comandante da praça pelo general Miguel Costa. No dia 28, assumi a prefeitura e convidei a oficialidade do esquadrão", escreveu Euzébio de Menezes.
Pelo escrito, havia organizado "um batalhão de 365 homens, tirei cinco para ir ocupar São Jerônimo", todos sargentos, patente do próprio Euzébio. "Entramos às seis horas da tarde gritando viva a revolução e logo prendemos a polícia, desarmamos o chefe político (…), trocamos o prefeito e o delegado." Euzébio conduz os soldados de São Jerônimo para São Roque. E retorna a São Jerônimo, desta vez com 127 homens, encontrando na cidade outros revolucionários. Menciona o coronel João Henrique Domingues e o comandante do 4º esquadrão de cavalaria do Rio Grande do Sul, "o Mimi", a quem não permite assumir o comando da praça, "estive em pé de guerra com o esquadrão, discuti com o capitão comandante".
Segundo outras fontes, convergiram também uma força do interior do município, liderada por Francisco Soares, e o corpo de cavalaria do Exército comandado por Reinado Mansani, o "tenente Caveira", que marchou desde Guarapuava.
O ponta-grossense Euzébio Barbosa de Menezes viera do serviço militar na cavalaria do Exército no Rio de Janeiro, transferido para Castro em 1917 e promovido a cabo. Tinha 20 anos, deu baixa e casou-se em 1919 e mudou-se para São Jerônimo. Sua presença em São Roque era por interesses familiares.
Seu período no cargo de prefeito terminou no decorrer de 1932, desanimado pelas "calúnias e ameaças" de opositores, que o levaram a sair. Por outra versão, foi demitido pelo interventor Manoel Ribas, que acolheu denúncias de arbitrariedade.
Morando em Ponta Grossa, integrou-se às tropas governistas, contra a revolução paulista em 1932, no posto de capitão. Em 1936, a família chega ao sul de Londrina, em cuja propriedade doa área para o Patrimônio São Luiz, atualmente distrito. Em 1937, fixa residência na cidade. Vereador eleito em 1947 e cidadão honorário, Euzébio morreu em 21 de março de 1960. Um de seus netos é o vereador Péricles Deliberador.

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