A arte de interpretar encanta, emociona e leva o público à reflexão sobre os mais variados temas. Para o grupo de teatro da Associação dos Deficientes Visuais de Londrina (Adevilon), o privilégio de atuar vai muito além, permite que as pessoas com deficiência visual resgatem a expressividade gestual que acabam perdendo com o tempo. Isso é o que afirma a professora de português Onildes Sanches Fuganti, que há cerca de quatro anos coordena a oficina teatral da associação.
Com o envolvimento de dez associados e aberta à participação do público, a oficina promove o debate sobre obras literárias brasileiras, como ''O homem nu'', de Fernando Sabino; e ''Sem enfeite nenhum'', de Adélia Prado. Após a discussão sobre as obras, o grupo de teatro inicia os ensaios que são realizados pela menos uma vez por semana.
''Eu me sinto muito feliz de poder mostrar às outras pessoas que o deficiente visual tem a capacidade de interpretar, de passar a riqueza do que é a literatura brasileira para o público'', conta a atriz Tatiane Pereira de Quadros. Ela revela se emocionar quando tem o trabalho reconhecido pelo público ao final de uma apresentação.
Segundo Tatiane, o conhecimento geral que ela pôde adquirir com a participação no teatro a ajuda a entender melhor o mundo e formar sua opinião sobre os mais variados assuntos. ''Sempre é possível retirar algum tipo de conhecimento seja de romances, contos ou de uma poesia; a gente acaba aprendendo mais sobre história, geografia, português e outras disciplinas.''
Para a coordenadora da oficina, essa é uma importante oportunidade para que as pessoas com deficiência visual possam participar das discussões também sobre textos literários e aplicá-los à sua vida. ''O deficiente fica muitas vezes marginalizado de conversas, de debates sobre essas obras, justamente porque antes da internet eles não tinham acesso'', explica Onildes. ''E com essas obras nós discutimos sobre a importância da aceitação do diferente e da superação de barreiras.''
Reconhecimento
De acordo com a atriz Inês Pereira Batalia, as aulas de teatro a ajudam na desenvoltura. ''Eu era muito tímida, calada. Agora, estou muito mais atuante, eu participo das discussão sobre o andamento das peças de teatro'', conta.
Para o músico e ator Marcos dos Santos, o fato de ter uma deficiência não o atrapalha durante os ensaios e apresentações. Eles explica que a única diferença é a importância de fazer reconhecimento do palco antes das apresentações ''para conhecer o tamanho do espaço que existe para nos locomovermos''.
Para o ator Hélio Silva Vieira, o que muda para eles é também a forma de memorizar o texto. Enquanto alguns optam por utilizar o braile para decorar os textos, ele prefere ouvir a gravação em um CD. ''Antes, quando não tinha a internet, não podíamos ler as obras, agora nós já podemos memorizar escutando'', completa a esposa Tânia Regina da Silva Vieira.
O grupo de teatro já realizou apresentações nos Colégios Estaduais Vicente Rijo, Ieel e Dario Veloso, além de apresentações em Maringá (Noroeste. Agora o grupo se prepara a apresentação da adaptação de uma das obras de Clarice Lispector. As aulas de teatro são realizadas sempre às segunda-feiras à tarde.
Serviço - Os interessados em participar da oficina podem se inscrever pelo telefone (43) 3326-9559.