Imagem ilustrativa da imagem Tendências do mercado automotivo
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Foram dois meses de pesquisas e comparações, até a terapeuta Márcia Carvalho decidir o modelo do novo carro que iria comprar. Itens como ar condicionado e direção hidráulica, que no passado eram decisivos na hora de uma compra, hoje tornaram-se comuns e nem são mais discutidos. O que pesou na hora da escolha foi sustentabilidade e conectividade. "Estamos cada dia mais conectados, o smartphone passou a ser essencial no cotidiano, seja em casa ou no trabalho, por isso utilizar as funções dele dentro do veículo passaram a ser uma necessidade", avalia Márcia.
O veículo escolhido, um Renault Duster, conta com o Media Nav, uma tela de 7 polegadas sensível ao toque que permite acesso à funcionalidades como GPS, Bluetooth, interação com iPod e smartphones, além de telefonia viva-voz e acesso a contatos e histórico de chamadas, aplicativos que orientam como dirigir de modo mais econômico, entre outros atrativos. Márcia também buscou informações sobre consumo, emissão de gases e cuidados com o meio ambiente na fabricação do veículo. "Optaria por um carro elétrico, por exemplo, se fosse mais acessível. Mas acredito que ainda estamos longe de um cenário ideal para isso no País", avalia.
O comportamento de Márcia na hora de escolher o veículo parece convergir com um estudo global, feito com executivos do setor automotivo, produzido pela empresa de consultoria KPMG. Participaram dele quase mil executivos das maiores empresas automobilísticas do mundo. O Brasil, com 70 executivos, foi o segundo país que mais contribuiu para a pesquisa, atrás apenas dos Estados Unidos, com 83 executivos. Os dados chamam a atenção: a maioria dos entrevistados brasileiros acredita que os carros elétricos com bateria vão ser a principal tendência do mercado até 2025 (50%), seguidos pela conectividade e digitalização (49%). Outros 37% apostam no sucesso dos carros autônomos.
"Em uma visão geral, podemos dizer que os executivos brasileiros se posicionam de maneira vanguardista frente às inovações tecnológicas e transformações no modelo de negócio que estão permeando os próximos anos da indústria", analisa o diretor da KPMG no Brasil para o setor automotivo, Ricardo Bacellar.

Renault Duster conta com Media Nav e uma tela de 7 polegadas sensível ao toque que permite acesso a funcionalidades como GPS, Bluetooth, interação com iPod e smartphones
Renault Duster conta com Media Nav e uma tela de 7 polegadas sensível ao toque que permite acesso a funcionalidades como GPS, Bluetooth, interação com iPod e smartphones | Foto: Divulgação/Renault



Referência na pesquisa, o mercado de carros elétricos ainda engatinha por aqui, com poucas e caras opções. O BMW i3, único 100% elétrico oferecido no Brasil, possui um motor elétrico e outro a gasolina que serve apenas para carregar a bateria, funcionando como um gerador. A versão de entrada custa R$ 159.950, enquanto a topo de linha chega aos R$ 179.950.
Destaque ainda para o Toyota Prius (R$ 123.950), Toyota Lexus CT200h (R$ 129.900), Ford Fusion Hybrid (R$ 149.900) e Mitsubishi Outlander PHEV (R$ 204.990).
Apresentado pela Volkswagen no Salão de Paris no ano passado, o VW ID ainda é um conceito, mas dará origem, daqui a quatro anos, a uma linha exclusiva de carros com motores elétricos. De acordo com o fabricante, o carro vai revolucionar a marca. Lá fora, as montadoras apostam no produto. Uma nova geração de baterias já permite autonomia de até 400 quilômetros para o Renault Zoe, praticamente o dobro do que era oferecido anos atrás. E a General Motors lançou nos EUA o Chevrolet Bolt, capaz de percorrer os mesmos 400 quilômetros com apenas uma carga.

O BMW i3, único 100% elétrico oferecido no Brasil, possui um motor elétrico e outro a gasolina que serve apenas para carregar a bateria
O BMW i3, único 100% elétrico oferecido no Brasil, possui um motor elétrico e outro a gasolina que serve apenas para carregar a bateria | Foto: Divulgação/BMW



Outro obstáculo que os carros elétricos vão precisar superar no Brasil é a infraestrutura. Para 62% dos entrevistados, a popularização dos veículos pode falhar devido à falta de pontos de recarga, por exemplo. Por isso, 76% dos executivos acreditam que os veículos à combustão vão ser mais importantes que os elétricos ainda por um bom tempo.
"A conectividade já avançou muito nos últimos anos. Hoje o carro é digital, interativo, praticamente conversa com o motorista, algo impensado décadas atrás. E essa tecnologia tornou-se uma exigência na hora de fechar um negócio. Por isso acredito que esses outros destaques da pesquisa, como o carro elétrico, devem chegar ao mercado de forma natural e gradual daqui pra frente. É um movimento, acredito, sem volta, em que governos e cidades terão que se adaptar querendo ou não", aponta o empresário Rubens Mattos, que atua no setor automotivo desde 1988.

Autônomos na terra e no ar
Também destaque na pesquisa da KPMG, os carros autônomos vem gerando uma corrida entre diversas marcas, como BMW, Volvo, Ford e Nissan. Até o Google participa da disputa, com testes iniciados em 2009. No final do ano passado, o projeto de carros autônomos da marca passou a ser conduzido por uma nova empresa, Waymo, independente da gigante da internet.
O veículo que dirige sozinho, usando computadores que interpretam dados captados por radares e sensores que detectam o tráfego ao redor, obstáculos na via e determinando o caminho a ser seguido e a velocidade, deve revolucionar a forma como nos deslocamos atualmente. Quando a tecnologia estiver aplicada, o motorista passará a ser apenas um ocupante do carro, podendo aproveitar o tempo do trajeto para fazer diversas atividades, como trabalhar ou relaxar, sem se preocupar com o trânsito. Atualmente, o sistema tem sido aplicado de forma parcial, em aplicações como o assistente de estacionamento.
Diversas montadoras afirmam que podem lançar veículos 100% autônomos já na próxima década. A BMW, por exemplo, declarou que terá produção em série a partir de 2021. No entanto, a venda desses veículos não depende apenas de tecnologia, mas de legislação específica que autorize e determine regras para o sistema, além de organização na infraestrutura para as cidades conviverem com a novidade. É, portanto, outro ponto que pode atrasar a circulação dos veículos autônomos pelas ruas brasileiras.
Enquanto isso, nos Emirados Árabes, Dubai espera colocar em operação já julho a primeira aeronave autônoma para transporte de passageiros. O EHang 184 é um drone chinês, que pode carregar um passageiro com peso de até 100 quilos e uma mala pequena. Depois de se acomodar e colocar o cinto de segurança, o passageiro seleciona o destino em um painel touchscreen e pronto: o aparelho voa até o local automaticamente. A bateria permite meia hora de voo, em um alcance de até 50 quilômetros. A velocidade máxima é de 160 km/h. (M.M.)