Colecionadores atentos adquirem carcaças e peças por meio de leilões do Exército e cuidam da reconstrução das viaturas
Colecionadores atentos adquirem carcaças e peças por meio de leilões do Exército e cuidam da reconstrução das viaturas | Foto: Divulgação



Raras, repletas de acessórios com funções projetadas pelas Forças Armadas ou forças policiais, e absolutas ao cruzarem qualquer via do País. Essas são algumas características das viaturas militares antigas que reinam nos desfiles de 7 de Setembro, e despertam uma paixão permanente em um grupo bastante restrito de aficionados, que não medem esforços para adquirir uma dessas relíquias bélicas motorizadas.

O presidente da Brigada Paranaense de Viaturas Militares Antigas (BPVMA), Luercio Turra, confirma esse fascínio comum a todos os colecionadores - que ao todo não ultrapassam algumas dezenas de integrantes ativos. As viaturas – peças e carcaças - que movimentam esse mercados já foram utilizadas em combates e colocadas em desuso pelo Exército, que as disponibiliza para venda por meio de leilões também organizados pelas Forças Armadas.

"Há de se ter em mente que quem opta por comprar uma viatura está adquirindo também um pouco da história da motomecanização militar no Brasil e no mundo", informa. Esse período histórico, como explica, teve como marco a 2ª Guerra Mundial, pois a 1ª Guerra "foi um combate à base de trincheira, cavalos e calhambeques". "Assim, a preservação dessa história passa a ser de responsabilidade de cada colecionador", ressalta.

Turra explica que, além do procedimento de emplacamento (veja o box), no Paraná, cada pessoa que planeja adquirir e circular com uma viatura militar antiga precisa procurar a BPVMA, pois há uma série de exigências a serem cumpridas para a obtenção de alguns documentos exigidos pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) e que dependem do crivo do grupo. "A pessoa é avaliada por mais de seis meses, porque cada colecionador precisa ter comprometimento suficiente com a missão da brigada que é a de ser um museu de viaturas militares, preservando a história da motomecanização militar brasileira, inclusive prestando serviços de reparos nos fins de semana", lista o presidente. Outra exigência para fazer parte do grupo, segundo Turra, é homenagear os ex-combatentes da Força Expedicionária Brasileira (FEB) e veteranos de missões de paz nos desfiles de 7 de Setembro.

Além do aval da BPVMA, todo colecionador de artigos militares precisa obter junto ao Exército brasileiro o chamado Certificado de Registro (CR), emitido pelo Serviço de Fiscalização de Produtos Controlados (SFPC). "É por isso que é fundamental exigir a nota fiscal de cada item do carro, pois será necessário em todo esse processo", reforça. Tal cuidado é porque parte do que é ofertado no mercado, via leilões do exército, vem incompleto. "No garimpo via ferro-velho ou internet é importante certificar-se da existência da nota para não dar problema durante todo o processo de emplacamento, que é naturalmente demorado", alerta.

Segundo o Departamento de Trânsito do Paraná (Detran-PR), o prazo de seis meses ou mais para a regularização do veículo junto ao Denatran deve-se à quantidade inexpressiva de viaturas em circulação, que não ultrapassa a casa das centenas. São veículos que não têm cadastro na Base de Índice Nacional (BIN), setor que armazena as informações dos veículos pertencentes à frota nacional do Registro Nacional de Veículos (Renavam). O proprietário pode entregar a documentação ao Detran ou diretamente ao Denatran para ganhar alguma agilidade no processo que, por ser pouco, também conta com um efetivo reduzido para dar o encaminhamento.

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Imagem ilustrativa da imagem Feitas para o combate, disputadas por colecionadores



Viatura militar sem perder a identidade
Tratadas por viaturas militares, uma vez que transcendem as funções de um veículo particular feito somente para o transporte, elas são repletas de acessórios com funções projetadas para atender às necessidades de um combatente, de um policial ou de uma tropa inteira, no caso dos caminhões. E é justamente nessa diferença que reside o fascínio de pessoas que garimpam em leilões a viatura inteira ou vão montando peça por peça essa relíquia.

O fotógrafo e colecionador Gerson Klaina, que possui dois jipes e um Dodge M 37, entende bem a verdadeira peregrinação enfrentada por colecionadores, principalmente antes de consolidar as vendas via internet. "Desde 2009 estou envolvido com isso e cruzei o País até conseguir todas as peças do Dodge. Mas não tem o que pague a satisfação de conseguir montar, preservar e conduzir essas viaturas, esse museu vivo em cada viagem ou, melhor, levando um pracinha do 7 de Setembro", comemora.

Contudo, Klaina sugere aos admiradores das viaturas ingressar na BPVMA antes de investirem na aquisição de uma viatura. "Tem que gostar de todo esse universo e saber que não é algo para rodar todo dia".

Sem pensar em se desfazer das três viaturas, ele reconhece que fez um excelente negócio. "De quando comecei para agora, elas multiplicaram por sete o valor", garante.
Turra também atesta a valorização desse mercado nos últimos 10 anos. "As viaturas encantam nos detalhes, como alças laterais para o condutor empurrar quando encalha ou farol de blackout, pois tudo tem uma função visando facilitar a vida do combatente." A valorização de objetos antigos, avalia ele, também ajudou a alavancar o preço das viaturas, que pelo menos dobraram de valor nos últimos dez anos. "A vantagem é que hoje se consegue uma relíquia da 2ª Guerra completa via internet e diretamente dos países fabricantes, onde esse mercado está consolidado e sobram peças", afirma.

Segundo ele, a carcaça de um jipe que antes era obtido por R$ 8 mil nos leilões do exército, hoje não sai por menos de R$ 18 mil. Aliás, o que interfere diretamente no preço de cada jipe ou caminhão é a importância da guerra para a qual aquele modelo foi fabricado. "A 2ª Guerra e a Guerra do Vietnã são as mais valorizadas", aponta.

Mesmo com esse novo patamar de preços, Turra diz que é possível realizar melhores negócios com o advento da Internet. "A alavanca para pisca-pisca que eu procurava para o caminhão GMC WC 51 que estou montando estava sendo vendida por R$ 795, em São Paulo, e consegui nos Estados Unidos a R$ 200, mesmo que recaia todo o imposto de importação, não ultrapassará R$ 300", compara. (M.M.)