São Paulo - Montadoras e companhias de energia estão firmando parcerias e abrindo pontos de recarga gratuita para carros elétricos em várias cidades do País, para driblar a falta de regulamentação do setor. A criação de uma rede de abastecimento é fundamental para permitir a difusão do veículo elétrico. Eles têm autonomia na faixa de 130 a 180 quilômetros (km) e especialistas afirmam que o ideal é um eletroposto a cada 100 km.
Ricardo Guggisberg, presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), calcula que há no Brasil de 90 a 100 eletropostos instalados por empresas. Segundo ele, legalizar a cobrança da recarga é indispensável para o desenvolvimento e a proliferação dos postos. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) abriu consulta pública para avaliar a regulamentação do fornecimento de energia aos veículos elétricos. O prazo para envio de contribuições é 27 de julho.

INICIATIVAS
A Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL) abriu cinco eletropostos públicos na região de Campinas (SP), onde atua. O projeto prevê investimento de R$ 25 milhões e inclui a aquisição de veículos e a contratação de universidades e institutos de pesquisa. Entre os estudos em vista, está um modelo de tarifação e regulação do mercado de abastecimento de veículos elétricos.
Segundo cálculos da companhia, o preço por quilômetro rodado da energia elétrica em uma recarga doméstica fica em R$ 0,12, menos da metade do gasto por um veículo movido a etanol ou gasolina.
O projeto trabalha com a estimativa de 5,5 milhões de veículos elétricos, ou 5,8% da frota do Brasil até 2030. Essa frota consumiria 860 megawatts médios, 1,4% do consumo brasileiro em 2030.
A montadora alemã BMW possui 19 pontos de recarga gratuita de veículos elétricos em seis cidades brasileiras (Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Joinville, Rio e São Paulo), a maioria instalada em estacionamentos de shoppings e lojas Pão de Açúcar.
"A meta é expandir a rede de recarga para 60 a 70 postos no País até o fim do ano", diz Henrique Canto, gerente de projetos de marketing da BMW do Brasil, que vende dois modelos no País, um 100% elétrico e um híbrido.

NICHO DE MERCADO
Em Curitiba, há dez eletropostos em parceria entre a geradora Itaipu Binacional, a prefeitura e a Copel.
Celso Novais, coordenador brasileiro do Programa Veículo Elétrico de Itaipu, afirma que os eletropostos têm potencial para virar um nicho de mercado, agregando serviços como acesso à internet e pagamento de contas. "Portugal, por exemplo, tem 10 mil postos de abastecimento de veículo elétrico com cartão, para que o motorista pague a recarga na conta de luz de sua casa", afirma.
Ele estima que o custo de um eletroposto varie de R$ 20 mil a R$ 40 mil, mas que seria necessário um grande volume de veículos para que o negócio seja rentável.

NEGÓCIO DO FUTURO
Esses postos seriam de carga rápida, em torno de 20 minutos, o suficiente para mais algumas horas de viagem. Já a carga doméstica é lenta, podendo chegar a oito horas.
Segundo Novais, à medida que o carro elétrico se popularizar, a regulação da comercialização da recarga surgirá naturalmente. "É um grande negócio para o futuro, mas precisamos de investimento e apoio governamental, como acontece na China."
A produção de carros elétricos no Brasil ainda é uma realidade distante, segundo Antonio Megale, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). "Ainda é uma tecnologia muito cara", afirma.

SONHO CARO
De acordo com dados da ABVE, desde 2014 foram vendidos no Brasil cerca de 200 veículos puramente elétricos. Os híbridos - que combinam motor elétrico com outro a combustão - são 1,8 mil. Todos os modelos são importados. Mas o preço ainda é alto, acima de R$ 100 mil.
Em outubro do ano passado, a alíquota do Imposto de Importação caiu de 35% para zero para carros elétricos e movidos a células de combustível - que produzem eletricidade por meio da reação do hidrogênio com o ar. Veículos híbridos também foram beneficiados com a redução do imposto, de 35% para alíquotas que variam de 0%, 2%, 4%, 5% e 7%.