Ao ir para o Japão o ser humano
é um e ao voltar é diferente


  Outro reflexo do fenômeno dekassegui é a desagregação familiar. Há uma fragmentação no relacionamento entre parentes porque a jornada separa membros familiares como marido e esposa ou pais e filhos. Além disso, o dekassegui também ‘‘perde’’ seus amigos deixados no Brasil e, por isso, quando chega tem que construir novos relacionamentos. ‘‘Ao ir para o Japão o ser humano é um e ao voltar é diferente. É preciso uma readaptação, nem sempre fácil’’, avalia o sociólogo Edson Katayama. Este fenômeno leva muitos nipo-brasileiros a permanecer definitivamente no Japão.
  Segundo ele, de cada cinco dekasseguis um fica no Japão. Já são cerca de 68 mil vistos permanentes concedidos a trabalhadores que estão no País por cinco anos consecutivos. No Japão, os descendentes ficam acostumados a ter um retorno efetivo dos impostos pagos na forma de políticas públicas e, na volta ao Brasil, têm que voltar a conviver com os gargalos existentes em setores vitais da sociedade, como saúde, transporte, segurança, infra-estrutura, entre outros.
  Os apontamentos em questão fazem parte do estudo de Katayama, intitulado ‘‘A difícil readaptação nas fronteiras da cultura: O Retornado Dekassegui em São Paulo’’. Ele entrevistou 126 pessoas entre 2005 e 2007 na condição de consultor de dekasseguis em uma agência de empregos para o Japão. O sociólogo faz questão de frisar que o seu trabalho está aberto e que gostaria de continuar a discussão sobre ações eficazes de apoio aos dekasseguis no retorno ao Brasil. (F.M.)