Áreas que possam ser destinadas à instalação de parques industriais merecem mais atenção nesta revisão do Plano Diretor, avalia diretor do Ippul
Áreas que possam ser destinadas à instalação de parques industriais merecem mais atenção nesta revisão do Plano Diretor, avalia diretor do Ippul



Gerenciar uma cidade não é tarefa fácil. Para dar um norte àqueles que assumem essa missão, existe o Plano Diretor, um conjunto de regras que define que tipo de cidade se quer, para onde ela vai, quem irá ocupá-la e como. A legislação determina que essas definições sejam revistas, pelo menos, a cada dez anos, já que a cidade cresce, se desenvolve e passa a ter novas necessidades e objetivos. Londrina precisa passar por esse processo até o final de 2018 e, por isso, ele já teve início. Há poucas semanas foi lançada oficialmente a revisão do Plano Diretor, e este é o momento dos diversos setores da sociedade civil e da iniciativa privada participarem, para que o novo Plano Diretor seja capaz de traduzir os anseios de todos os cidadãos londrinenses sobre o desenvolvimento da cidade.

O Ministério das Cidades estabelece que o processo de revisão do Plano Diretor pressupõe a realização de, pelo menos, quatro etapas: metodologia, leitura da realidade municipal, seleção de temas prioritários e elaboração do projeto de lei. A metodologia já foi definida pela equipe do Ippul (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina) que, agora, dá sequência às demais etapas com a participação de um grupo de cooperação técnica, formado por representantes de universidades e órgãos setoriais, e um grupo de acompanhamento formado por representantes da comunidade. "O grupo de cooperação técnica traz conhecimentos extremamente importantes para a discussão do plano, aumenta nossa capacidade pensante, traz outras visões da cidade e do seu processo de desenvolvimento. E o grupo de acompanhamento, que somado ao Conselho Municipal da Cidade terá 100 representantes da comunidade, garante o caráter participativo da revisão, que é exigência do Estatuto da Cidade e do Paraná Cidades", explica o diretor de planejamento urbano do Ippul e coordenador geral da revisão, José Vicente Alves do Soccorro.

Segundo ele, periodicamente esses grupos se reunirão para levantar os pontos que precisam ser tratados na revisão e discutir soluções para eles. Também serão realizadas audiências públicas e conferências e o Ippul ainda pretende disponibilizar em seu site outras formas de participação. "O que a gente gostaria é que essa revisão do Plano Diretor fosse a oportunidade para uma ampla discussão sobre o destino de Londrina, as características, as dificuldades, a vocação, para onde Londrina deveria ir e que tipo de cidade queremos ter daqui dez anos. Londrina é uma cidade extremamente dinâmica, pujante, vibrante, com economia forte, mas a impressão que temos é que ela está andando com o freio de mão puxado", pondera Soccorro.

TRAVADA
A equipe criada dentro do Ippul para conduzir a revisão do Plano Diretor afirma ter se deparado com um conjunto de leis ultrapassadas e exageradas e esse é um dos motivos pelos quais Londrina parece estar "travada". Segundo Soccorro, o principal responsável por esse impacto negativo no desenvolvimento da cidade é a lei de uso e ocupação do solo, seguida pelo código de posturas e a lei de loteamento.

"O Plano Diretor deve ser uma lei enxuta, simples e objetiva, estabelecer apenas princípios, regras gerais, o macrozoneamento que organiza a distribuição das atividades na cidade. Fora isso, o que realmente importa é a lei de uso e ocupação do solo, que é o mais urgente para nós. Não podemos permitir de maneira nenhuma que aconteça o que aconteceu com a outra revisão: a lei do plano foi aprovada em 2008 e a lei de uso e ocupação em 2015. Em sete anos a cidade muda muito", argumenta o coordenador geral da revisão.

O ponto que, segundo Soccorro, merece mais atenção nessa revisão são as indústrias. Londrina tem enfrentado grandes dificuldades para impulsionar seu desenvolvimento industrial porque já não tem áreas que possam ser destinadas à instalação de parques industriais: ao sul, a área urbana já está nos limites da zona de amortecimento da Mata dos Godoy; a leste e a oeste, a expansão é barrada pelas vizinhas Ibiporã e Cambé; e ao norte, já próximo do Distrito da Warta, onde acreditava-se haver uma opção para uma zona industrial, está o manancial do Ribeirão Jacutinga, de onde Ibiporã capta água para o seu abastecimento. Para preservar esse manancial, não se pode permitir a instalação de alguns tipos de indústria ali. "O que vemos é que temos poucas áreas que possam servir à localização industrial. São apenas 7% dos 40% que ainda temos disponível para ocupação", afirma.

MERCADO IMOBILIÁRIO
Esse restante de espaço que a cidade ainda tem para destinar à instalação de indústrias também é cobiçado pelo mercado imobiliário, segundo Soccorro, e equilibrar essa distribuição deve ser um dos maiores desafios na revisão do Plano Diretor. "Vamos privilegiar um pouco o desenvolvimento industrial porque até agora só privilegiamos a construção civil. Precisamos equilibrar essa balança porque o mais importante para Londrina hoje é gerar emprego. Temos que desenvolver a cidade do ponto de vista econômico e a indústria tem um efeito multiplicador incrível nesse sentido, porque atrai indústrias satélites, fornecedores de matérias-primas, rede de distribuição", avalia.

O presidente do Ippul, Nado Ribeirete, ressalta que existe uma demanda de mais de 60 mil famílias esperando uma casa na fila da Cohab, o que indica um grave problema de desemprego na cidade. "A Prefeitura vê a indústria como uma alternativa de grande importância na geração de emprego e renda e no sonho das pessoas de ter a sua casa. Claro que cada setor vai defender seu lado, mas temos que pensar a revisão como comunidade porque precisamos de uma cidade sustentável. O mercado imobiliário é parte fundamental nesse processo porque ele também sofre muito com as incoerências que surgem da transformação da cidade", pondera.