Os olhos puxados, o cabelo preto e o tom amarelado da pele - traços físicos dos japoneses - podem se dissolver na população brasileira com o tempo. A afirmação é do professor de História da Universidade Estadual de Londrina (UEL) Rogério Ivano. Segundo ele, ‘‘é possível que daqui quatro ou cinco gerações, os traços físicos dos japoneses comecem a desaparecer definitivamente, devido a tantas miscigenações.’’
  Para Ivano, as combinações das mais variadas etnias com japoneses existentes no Brasil, torna o país um dos grandes laboratórios antropológicos.
  Uma pesquisa realizada pelo Centro de Estudos Nipo-Brasileiros revela que dentre a população nipônica no Brasil, cerca de 12,5% são representados por isseis (nascidos no Japão); 30,85% de nisseis (filhos de japoneses); 41,33% de sanseis (netos) e 12,95% de yonseis (bisnetos).
  Esta pesquisa dá origem a uma outra estimativa, que mostra que a presença de mestiços - filhos de japoneses com brasileiros - é cada vez mais significativa. De acordo com dados da Enciclopédia das Línguas no Brasil, publicado no ano passado pelo Laboratório de Estudos Urbanos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), os traços mestiços predominam entre a terceira e quarta geração (sanseis e yonseis). O estudo revela que entre os netos de japoneses, cerca de 42% são mestiços. Já entre os bisnetos, esse número chega a 61%, – dos 180 mil bisnetos, cerca de 110 mil são mestiços.
  Segundo o professor, as miscigenações tiveram origem entre os próprios japoneses. ‘‘Eles vêm de uma estrutura regionalizada muito forte, que geram costumes e dialetos diferentes entre eles. E é durante o processo de imigração (a espera nos portos e a temporada de 40 dias no navio), que eles se dão conta que mesmo sendo japoneses, eram diferentes. A partir daí, eles começam a se integrar e ocorrem as primeiras miscigenações’’, comenta.
  Ivano ressalta que a mistura com outras raças surge somente após a Segunda Guerra Mundial, pois ao chegar no Brasil, os imigrantes não buscavam se integrar à sociedade no sentido de falar a língua, promover casamentos interétnicos e participar da vida política. ‘‘Eles cultivavam a intenção de trabalhar, ganhar dinheiro e retornar ao Japão. É por isso que as relações com a sociedade local, sob essas condições, eram frágeis’’, explica.
  Com o fim da Segunda Guerra, os japoneses passam a desacreditar no retorno à terra natal e começam a aceitar a integração com os brasileiros. O que permitiu a mistura com outras raças. ‘‘Os primeiros casamentos interétnicos surgem na década de 60, com exceções, evidentemente. Já no final dos anos 70, essa mistura se estabelece definitivamente.’’