Doutor em História Social e estudioso da região, o professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, campus de Três Lagoas, Vitor Wagner Neto de Oliveira, afirma que o tenentismo (conflito entre oficiais revolucionários e forças federais) marca o início da intervenção dos militares na política nacional. ''O fenômeno se explica por duas vias: o fortalecimento do Exército após a Guerra do Paraguai e a relação desses oficiais com a classe média, ou com o desejo da classe média'', analisa.
Com a profissionalização da carreira militar e a consequente ascensão social, o professor diz que os tenentes passaram a se definir como guardiões da moral política e da nação. ''Propunham reformas políticas que possibilitassem a manifestação da vontade popular, como o voto secreto, mas em nenhum momento pregaram a ruptura com o sistema capitalista.'' Questionavam também ''a forma bairrista'' da política dos coronéis do café, baseada em acordos entre os chefes políticos locais.
Durante o movimento revolucionário de 1924, continua Oliveira, rebeliões ocorreram em vários pontos do País. Em São Paulo, os revoltosos ocuparam a capital entre 5 e 27 de julho, e rumaram para o interior até a barranca do Rio Paraná, em Porto Tibiriçá. Depois do insucesso de seguirem para o Mato Grosso, decidiram descer o rio até Guaíra. Os confrontos empurraram os revolucionários mais para o Sul, até o encontro com a coluna que vinha do Rio Grande do Sul, liderada por Carlos Prestes e que ficaria conhecida como Coluna Prestes.
O professor destaca que o Rio Paraná tornou-se uma via de deslocamento importante para os rebelados mas, por vezes, também foi fronteira intransponível em direção ao Mato Grosso. ''Nos enfrentamentos com as forças legalistas o domínio da navegação pelo rio, ou seja, o controle das embarcações, era importante para avança'', explica. (L.A.)