Eles costumavam figurar na decoração das casas das vovós e foram até taxados de brega durante algumas décadas de supervalorização do industrializado. Hoje, redescoberto pelas novas gerações, o handmade é a bola da vez na decoração: técnicas manuais como tricô, crochê e macramê estão com tudo e se transformaram em expressão de bom gosto e estilo. Além de trazerem uma estética legal, esses elementos dão um ar aconchegante e charmoso aos ambientes.

No grupo do whatsapp formado por decoradoras, o crochê tem sido o assunto principal nas últimas semanas. "Temos conversado muito sobre a utilização do crochê na mesa de jantar, em sousplats e jogos americanos. Mas os trabalhos manuais estão em alta na decoração em geral, principalmente o crochê", afirma a designer de interiores Isadora Silvério. E ela, que teve o enxoval feito pela avó em crochê, décadas atrás, finalmente está usando as peças com satisfação. "Estava tudo guardado porque eu achava meio brega, com exceção de uma colcha que eu já usava antes dessa tendência. Agora, estou usando várias outras peças", conta.

Reaproveitamento: no ambiente criado pela arquiteta Camila Feriato, uma bobina foi transformada em puff, coberto com uma capa em crochê com fios de malha
Reaproveitamento: no ambiente criado pela arquiteta Camila Feriato, uma bobina foi transformada em puff, coberto com uma capa em crochê com fios de malha | Foto: Camila Feriato/Divulgação



Especializada em interiores residenciais, Isadora garante que essa tendência é válida para qualquer tipo de ambiente, do cool ao sofisticado. O que vai determinar o estilo, segundo ela, são as cores utilizadas nesses elementos. "No tricô e no crochê, basta que as cores estejam de acordo com o restante do estilo. Você não vai, por exemplo, usar uma almofada de crochê preta num ambiente clean, de cores claras". Já o macramê, segundo ela, casa melhor com ambientes mais rústicos.

Além de dialogar bem com qualquer tipo de decoração, as tramas manuais são muito versáteis e têm sido utilizadas por designers e entusiastas do "faça você mesmo" como protagonista de diversos produtos: nos mais convencionais, como almofadas, xales para sofá, colchas, peseiras; e alguns mais inovadores, como puffs, cadeiras, cestos, luminárias.

O fio de malha modernizou o crochê com suas cores vibrantes e uma cara contemporânea para as peças
O fio de malha modernizou o crochê com suas cores vibrantes e uma cara contemporânea para as peças | Foto: Nat Petry/Divulgação



MODERNIZAÇÃO
O que favoreceu esse resgate das técnicas manuais foi o surgimento de novos materiais. O fio de malha é a principal matéria-prima no trabalho da designer Nat Petry, que há dois anos criou o ateliê que leva seu nome e passou a trabalhar exclusivamente com técnicas manuais. "O fio de malha modernizou o crochê porque tem cores vibrantes, é mais espesso, dá uma cara contemporânea para as peças", explica. Outro material que proporciona pontos mais volumosos e, por isso, mais modernos, é o fio de lã gigante, que está fazendo muito sucesso nesse inverno.

Formada em Design de Produto, Nat sempre foi apaixonada por fios, tecidos e agulhas. Depois de criar sua própria marca de produtos feitos à mão, ela percebeu uma alta demanda de pessoas que queriam aprender as técnicas para fazer seus próprios objetos. Hoje, ela se dedica a ensinar aquilo que aprendeu ainda criança, com a mãe e a avó, não só em Curitiba, onde ela mora, mas viajando por todo o Brasil com suas oficinas. "Os trabalhos manuais estão voltando a ser valorizados. Passamos daquela fase da euforia da industrialização e as pessoas viram que o industrializado não é tão legal assim. Uma peça única, feita à mão, com carinho, devagar, carrega outra energia", pondera a designer.

Para ela, o conceito do crochê também mudou nessa modernização e a técnica que era considerada atividade da mulher prendada, hoje é considerada arte. "O crochê deixou de ser coisa da bela, recatada e do lar para se tornar uma atividade criativa. Muitos dos meus alunos são pessoas estressadas com o trabalho, que encontraram no crochê um hobby, uma terapia", conta.