O modelo econômico vigente não inclui a dimensão ambiental na tomada de decisões, alerta Junior Ruiz Garcia
O modelo econômico vigente não inclui a dimensão ambiental na tomada de decisões, alerta Junior Ruiz Garcia | Foto: Gustavo Carneiro



A preocupação com questões de sustentabilidade segue crescente em todo o mundo. Mas mesmo com recursos naturais escassos e com os efeitos da degradação ambiental mais visíveis, o problema ainda é subestimado por alguns setores da sociedade. O painelista do EncontrosFolha, Junior Ruiz Garcia, professor do departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e diretor regional da Sociedade Brasileira de Economia Ecológica, faz uma crítica à falta de atenção ao tema nas escolas de Economia. "O modelo econômico vigente não inclui a dimensão ambiental na tomada de decisões", pontua.

Ruiz Garcia cita as transformações ocorridas ao longo dos anos e como isso impactou as sociedades. "No passado, o que mais tínhamos era natureza. O capital natural era abundante. O problema é que quando nós começamos a organizar a sociedade, criamos a economia, o sistema de produção para atender aos nossos desejos. Nós mudamos essa relação e hoje, no século 21, o capital natural é um fator escasso. Qual que é o problema disso? O custo de degradar é imenso. É o que nos chamamos na economia de custo de oportunidade", detalha. "É como aquela afirmação emblemática: não existe almoço grátis. Se eu quero vestir uma roupa de qualidade, eu vou gerar impactos ambientais, eu vou degradar a natureza. Necessariamente, isso vai provocar uma questão sobre: a sustentabilidade é possível?", acrescenta.

O economista defende que crescimento é diferente de desenvolvimento. Ele sugere que, é preciso repensar o modo de ver os dois conceitos. "O que se propõe no Brasil atualmente é o crescimento econômico. É só ver as políticas econômicas que estão sendo adotadas agora neste momento de crise. Crise nada mais é do que falta de crescimento, não é falta de desenvolvimento. Mas será que o crescimento econômico hoje tem tal poder de promover o desenvolvimento da sociedade?", questiona. "Todas as famílias do Brasil poderiam ter uma condição mais que suficiente, materialmente, se tivéssemos uma distribuição mais igualitária", diz.

O painelista cita o conceito de "mundo cheio", no qual o problema não é mais falta de bens e serviços produzidos pela economia, mas a falta de serviços ecossistêmicos perdidos. "Nós temos a Sanepar porque hoje não temos mais água limpa. Ela faz o serviço que a natureza fazia gratuitamente. Eu pago para fazer isso. A Defesa Civil faz ações de prevenção contra controle de cheias e desastres naturais que a natureza fazia gratuitamente. O problema é que nós alteramos a natureza de tal maneira que hoje precisamos fazer investimentos, alocar recursos para recompor um serviço gratuito", analisa.

Para Ruiz Garcia, hoje a sustentabilidade não é mais uma questão de escolha e, segundo ele, este processo é irreversível. "Não é uma questão mais se eu quero ser verde, se eu quero ser sustentável, qualquer rótulo que nós utilizamos. Existe uma nova institucionalidade ambiental que eu chamo de paradigma do desenvolvimento sustentável. Se eu sou produtor rural, eu tenho que atender ao código florestal, goste ou não. Se eu quero investir em uma indústria de papel e celulose, eu tenho que respeitar todas as legislações ambientais."