A longevidade do povo japonês, que tem expectativa de vida em torno dos 80 anos, sempre foi objeto de estudo da ciência - afinal, quem não quer descobrir os segredos para uma vida longa e saudável?
  Segundo o geriatra Marcos Cabrera, de Londrina, o que as pesquisas mostram é que a genética tem papel pouco relevante - representando apenas 20% da tendência de viver mais ou não - e que alimentação, estilo de vida e até algumas virtudes psíquicas, que se traduzem na maneira de encarar a própria vida, são o que fazem a diferença. ‘‘O componente genético é importante e não há dúvida que isso o japonês tem. Mas, a medida que o imigrante foi incorporando o hábito de vida do brasileiro, diminuiu a longevidade, mostrando que o estilo de vida também é importante’’, avalia.
  A dieta tradicional japonesa rica em cereais, vegetais, peixes e frutas é um dos componentes que explicam a maior longevidade, mas o comportamento também entra como ítem fundamental. ‘‘Dieta e genética são componentes que outros países e comunidades também têm, mas o japonês tem mais uma questão, o comportamento, que muitas vezes é chamado de introvertido, mas na verdade é reflexivo’’, ressalta.
  Cabrera lembra que a estrutura familiar do povo japonês é algo bastante forte, onde as pessoas tem papéis definidos, se ajudam e se respeitam, especialmente entre os mais velhos. Isto vem de encontro aos estudos sobre longevidade que, segundo o médico, mostram que ‘‘ter com quem conversar’’ é um dos fatores que favorecem o envelhecimento saudável, assim como um casamento feliz, uma maneira positiva de encarar as dificuldades da vida e sentimentos de gratidão e solidariedade.
  ‘‘Ter com quem dividir os problemas faz com que você tenha um envelhecimento com mais sucesso. Então, aquilo que a gente achava que só tinha a ver com questões biológicas, hoje tem a ver com questões absolutamentes diferentes. O mérito da cultura japonesa é que ela consegue ter a maioria dos determinantes da longevidade ao mesmo tempo’’, afirma.
  Entre os fatores de risco para a saúde e a longevidade, ressalta o médico, 51% estão relacionados a estilo de vida, 20% a hereditariedade, 19% a ambiente, e 10% a doenças. A explicação é genética, por exemplo, para a maior prevalência de câncer de estômago entre os japoneses, assim como a osteoporose, e a maior suscetibilidade à Doença de Crohn, uma doença inflamatória crônica gastrointestinal. Outro preço que se paga pela longevidade é o aparecimento de doenças relacionadas à idade, como o Alzheimer. ‘‘Não há uma ‘receita’, mas acho que vale a pena a gente refletir sobre hábitos alheios e o que que a gente pode aprender’’.
  Para o geneticista Francisco Salzano, docente da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), prever como as características genéticas dos japoneses estarão presentes no povo brasileiro daqui a dois séculos, por exemplo, vai depender ‘‘do seu grau de integração à sociedade nacional e à sua fecundidade quando comparada à de outros grupos étnicos’’. ‘‘Em todo caso, como o componente asiático de nossa população é bastante pequeno, não é de se esperar um impacto muito marcante nesse intervalo de tempo.’’