Luiz Porto Junqueira, londrinense, auxiliar de operações, 27 anos. Desde a adolescência, sofria desmaios a cada situação incômoda ou de medo. ''Eu parecia um zumbi de tantos remédios que tomava. Já tinha ido a uma série de médicos e nada adiantava. Até epilepsia já haviam me diagnosticado. Fui a centros espíritas, a igrejas que prometiam tirar o demônio de meu corpo, isso sem contar as igrejas que nem me aceitavam, alegando que eu tinha uma coisa ruim'', relembra.
Entre os episódios inusitados que protagonizou, em sua frequência de desmaios, Luiz recorda-se de ter caído de uma escada de 30 degraus, de quase ter se afogado e de cair na fila do supermercado. A adolescência foi das mais difíceis. Sofria Luiz, sofria a família. ''Meus pais pensavam que eu fosse morrer, eu não acreditava em mim e perdi muitos amigos, que não aguentavam mais me carregar, após os desmaios''.
No ápice de seu inferno astral, Luiz precisou deixar o emprego de office boy. ''Quando desmaiava'', descreve, ''me via correndo com roupas estranhas, na época viking. As pessoas me jogavam numa cela e eu me via morrendo de doenças, como a lepra. Não me sentia culpado por nada e não entendia o porquê daquele sofrimento''. Era o ''tudo ou nada'' na vida do jovem Luiz.
Por coincidência, amigo do cirurgião-dentista e professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Pedro Carlos Tonani, decidiu aceitar ajuda: seria submetido à hipnose condicionativa.
Apontada como o que há de mais moderno como técnica de tratamento, a hipnose condicionativa diferencia-se das demais por um simples - e funcional - fato: nela, o paciente não entra em sofrimento, permanecendo passivo durante toda a sessão. Em Luiz, os resultados foram mais do que concretos.
''Nunca mais desmaiei após ser submetido a uma única sessão. Hoje, posso dizer que minha vida é corrida e capacitada, meu desempenho e rendimento só crescem e, nos próximos dias, começo em um novo emprego, como consultor de vendas''.
Hoje, tido como um ''segundo pai'' na vida de Luiz, Pedro Carlos, que também é mestre em Estomatologia, explica como funciona a técnica. ''Primeiramente faço a anamnese, espécie de entrevista preliminar, para identificar se o paciente é sugestionável ou sensível''. No caso de Luiz, a sensibilidade regia seu comportamento, culminando nos desmaios.
''Durante a sessão, o indivíduo não dorme. O que acontece é que ele relaxa o físico, relaxa a mente, aí condiciona tudo o que lhe perturba, seja uma coceira no pé, um vizinho chato, o pior inimigo, a mulher ou o patrão. A partir daí, pergunto o que incomoda a pessoa, que lembra do tal incômodo. Sugiro que isso seja posto na gaveta''.
Cara a cara com a hipnose - Durante a entrevista, a reportagem da FOLHA acompanhou o exemplo de uma sessão. Para quem guarda aquele ''quê'' de dúvidas quanto à eficácia, eis algumas razões para a mudança de pensamento.
O exemplo deu-se no próprio Luiz, que um dia antes havia passado por uma situação nada agradável, daquelas dignas de ''se remoer''. Deitado em um sofá (conforme fotografamos), Luiz fechou os olhos e passou a receber instruções de Pedro Carlos Tonani.
Primeiramente, Pedro Carlos sugeriu ao paciente que se sentisse como em um passeio, jogando fora todas suas mágoas. Após a contagem de três, o especialista sugeriu que o pensamento se voltasse para a felicidade, pedindo a Luiz que ''pegasse esse incômodo e todos os demais e que criasse, mentalmente, um cofre indestrutível, com várias cores''.
Feito isso, Pedro Carlos pediu para Luiz - que não se pronunciava - para guardar todos seus incômodos dentro desse cofre. ''O significado do que lhe aconteceu é nenhum, já foi para o cofre, que está lotado, com o ciúme, a ignorância e a agressividade. Perdoe e peça perdão. Agora, feche esse cofre, crie um segredo e dê essa chave para mim. Me dê essa chave, que será arremessada para longe por mim. Pronto. Agora ninguém mais tem acesso. Vou contar um, dois, três e você vai despertar fantasticamente''. No mesmo instante, Luiz desperta. A sensação, segundo o próprio Luiz, é de pura tranquilidade.
Após a sessão, Luiz relembra outros momentos em que recorreu à hipnose. ''Jamais imaginei que chegaria aos 27 anos. Recentemente, me tiraram um dente sem que precisasse me submeter à anestesia. Com a ajuda da hipnose, também conquistei segurança, condicionando-me a falar em público''.
No mesmo momento, Pedro Carlos brinca com o agora nada silencioso Luiz. ''Hoje já é o caso de uma hipnose para ele parar de falar tanto'', afirma, aos risos.
Com duração de 40 minutos a um máximo de duas horas, as sessões de hipnose condicionativa trazem outra benesse: a rapidez. ''Já tratei de pacientes com bruxismo que, nas técnicas tradicionais, demoravam, em média, de quatro a seis sessões para obter resultados. Com o método condicionativo, as sessões caíram para duas a três. Há a agilidade e não há sofrimento'', defende Pedro Carlos.
Querer é poder - As aplicações, conforme diz o dentista, são múltiplas. Basta, no entanto, querer. ''Treinamos alunos, na UEL, que desenvolvem um projeto com os portadores do HIV. Com esse estímulo e a hipnose, muitos desses portadores do vírus da AIDS vêem os resultados nos exames: as células de defesa ficam mais ativadas. Não pregamos a cura, e sim o tratamento. Aquele que está disposto a melhorar obtém essa melhora, basta querer'', ressalta Pedro Carlos, que acredita que mais de 90% das doenças venham da mente.
Nesse universo do ''querer é poder'', Pedro Carlos faz a ressalva: não se pode fazer da hipnose estepe para a vida. ''Não se tira a memória da pessoa. Apenas se modifica o valor que ela dá para determinado assunto. Sempre para melhor. Quem aceita o meio em que vive, subsiste ali''.

Serviço
Interessados em conhecer mais sobre Hipnose Condicionativa e obter informações sobre profissionais que utilizam a técnica no Paraná, podem recorrer ao endereço eletrônico:
http://groups.msn.com/HIPNOSECLINICA
O custo de uma sessão de hipnose condicionativa é determinado pelo terapeuta, dependendo da região e local de atendimento, variando de R$ 100,00 à R$ 450,00.