Quase todo mundo gosta ou não se incomoda com cachorro, gato, cavalo ou passarinho. Mas, até quem mora em cidades grandes tem que conviver com muitos outros animais, e alguns deles indesejáveis. Podem aparecer de surpresa, como a onça que assustou os moradores da cidade de Cambé nesta semana, ou são uma constante na paisagem urbana, como os pombos das praças e prédios antigos.
Em Curitiba, é comum a ocorrência de aves - são cerca de 300 espécies -, gambás, ratos, morcegos e até famílias de macacos nos parques da região. ''Por ser uma cidade com grande área verde, Curitiba tem grande incidência dos animais da fauna nativa. Eles já estavam aqui muito antes da cidade crescer e são protegidos por lei'', afirma Marcos Traad, diretor do Departamento de Zoológico de Curitiba. Casos excepcionais, como o do jacaré do Parque Barigui, ou das capivaras no Parque Tinguí requerem atenção especial - neste último caso um plano de manejo que está sendo feito pelo Departamento de Zoológico.
A ilustradora Fatima Seleme Zagonel se surpreendeu quando um gambá começou a ''marcar presença'' na sua casa, no Bairro Santo Inácio. A surpresa foi ainda maior quando o bicho fez ninho e deu cria em sua churrasqueira. ''Quando percebemos, tinha sete ou oito filhotes de gambá entrando na minha casa, se escondendo atrás dos móveis e da geladeira'', conta. De acordo com o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), localizado em Tijucas do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba, houve um aumento de 114,2% no número de gambás recolhidos em Curitiba e região nos últimos quatro anos.
O Cetas, mantido pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) recebe animais encaminhados pela Polícia Ambiental, Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Segundo Grazielle Soresini, coordenadora técnica do Cetas, muitas vezes a própria pessoa acaba levando o animal até o centro.
Marcos Traad dá o recado para a população curitibana: ''Quando se deparar com um desses animais, é importante que a pessoa jamais encoste nele. Ela deve buscar a orientação do Ibama e usar luvas e caixas no manuseio e transporte do bicho''. Outra recomendação é em hipótese alguma alimentar os animais. ''As pessoas acham 'bonitinho' quando o bicho vem buscar o alimento. No caso dos pombos, que não têm um predador natural na cidade, isso acabou gerando um descontrole do tamanho da população''.
Para Rosana Vicente Gnipper, da organização não-governamental (ONG) SOS Bicho, a grande reclamação das pessoas com os bichos ''indesejáveis'' é com relação à sujeira. ''A maior parte destes animais não é transmissor de doenças, e mesmo aqueles que podem ser não devem ser exterminados em massa. As pessoas acabam usando a bandeira da saúde pública como desculpa para se livrar dos bichos que na maioria das vezes estão no máximo sujando as vias públicas'', explica.