Nem só de sushis e sashimis vive a culinária japonesa em Londrina. O mel de abelhas, vindo diretamente do Oriente, tem endereço certo e conhecido. A Hachimitsu - que na língua japonesa significa mel de abelhas - foi inspirada nas confeitarias japonesas. Doces trabalhados e esculpidos cuidadosamente e sabor mais suave do que o dos tradicionais brasileiros. Fruto da paciência e da persistência oriental, sem esquecer o trabalho duro. A confeitaria foi um investimento de um dekassegui que, mesmo trabalhando por sete meses no vermelho, continuou acreditando no negócio.
  O empreendedor Nilo Kato permaneceu durante 15 anos no Japão. Foi em busca de oportunidades, comprar um apartamento. ‘‘Nos meus planos ficaria por até dois anos no Japão e depois voltaria para comprar uma casa e continuar meus estudos’’, conta. O imóvel ele comprou depois de um ano e meio, mas o desejo de voltar ao Brasil acabou adiado.
  No Japão, casou com a namorada londrinense, Sueli, que ganhou uma bolsa de estudos do governo e depois ficou por lá para trabalhar. ‘‘Queríamos tentar um negócio próprio no Brasil, mas não sabíamos o qu꒒, lembra. Por hobby o casal foi fazer cursos para aprender como fazer as delícias japonesas, observadas atentamente nas vitrines das confeitarias. As aulas duraram cerca de cinco anos e o que antes era encarado como um passatempo começou a virar um pequeno negócio.
  Em casa eles começaram a fabricar os doces, adaptado ao sabor brasileiro para atender os dekasseguis. ‘‘Além do retorno financeiro era um trabalho que dava satisfação, nos identificamos.’’ Neste período o filho do casal já havia nascido e cursava regularmente uma escola japonesa.
  O menino estava sendo discriminado pelos colegas e com dificuldades de acompanhar a escola. Foi quando vieram passear na casa do sogro, em novembro de 2004, que resolveram ficar. O sogro tinha uma borracharia e por oito meses o empreendedor trabalhou no estabelecimento. A família ainda precisava de um complemento na renda para as despesas básicas. O casal, então, resolveu recorrer ao período vivido no Japão com a venda informal dos doces japoneses.
  A Hachimitsu já estava montada em Londrina, uma idéia de outro dekassegui, mas que não estava indo bem. Foi quando um corretor veio lhe oferecer o negócio. ‘‘Acho que foi uma coisa de Deus. Encarei como um desafio’’, afirma o empreendedor. Tocaram a loja no vermelho por sete meses. Depois, a divulgação na mídia local reverteu o panorama. Atualmente, são 14 funcionários, dos quais oito dekasseguis.
  As lições japonesas foram implantadas como um programa de qualidade. ‘‘Tento passar para meus funcionários que são os clientes que ajudam no nosso sustento. Temos que respeitá-los e ter honestidade, tudo começa pelo coração.’’
  Dentro de dois ou três anos a intenção é lançar franquias. ‘‘Sou grato ao Japão, gosto de lá, mas gosto ainda mais do Brasil e recomeçaria tudo de novo. Nos 15 anos que eu fiquei no Japão o Brasil mudou muito, só não mudou o calor humano da população’’, diz Kato. O trabalho duro, vivido no Japão, também ainda existe. Além de participar freqüentemente de feiras ligadas ao segmento, o casal é o primeiro a chegar e o último a sair. ‘‘Me sinto feliz, vou deixar para o meu filho não só o dinheiro, mas uma marca’’, observa. A chave do sucesso talvez esteja em três palavras: persistência, paciência e trabalho. (F.M.)