A evolução da comunidade nipo-brasileira após cem anos da imigração é o foco do livro ‘‘Haine (Raízes): Expansão da comunidade nikkei em 100 anos de presença no Brasil’’, que será lançado este mês em Curitiba.
  As 904 páginas da obra trazem um retrato da saga dos imigrantes e dos seus descendentes com base nos diversos censos populacionais realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE).
  Conforme o professor/pesquisador da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence) - órgão ligado ao IBGE -, e um dos autores do livro, Kaizô Iwakami Beltrão, o primeiro registro da presença de japoneses em terras tupiniquins consta no censo de 1872. ‘‘Neste censo aparecem onze japoneses e no censo seguinte, de 1920, não achei ninguém. Estes japoneses poderiam estar morando aqui como homens de negócios ou representação diplomática’’, avalia.
  Passados 128 anos, a análise de microdados da contagem populacional de 2000 revelou que atualmente, a comunidade nikkei corresponde a 0,83% do total da população brasileira – cerca de
1,4 milhão de pessoas. ‘‘No
Paraná, são 142 mil – 1,48% da
população.’’
  O estudo mostra ainda que a maior parte da comunidade japonesa deixou o campo. Em 1960, mais da metade dessa população (54%) se dedicava à agricultura. O censo de 2000 detectou que somente 18% dos japoneses permaneciam nas atividades rurais, enquanto que 38% estava no setor de serviços e 14% no comércio.
  Outro importante dado coletado nos censos, é que apesar da renda média do nikkei ser superior ao da população total do país, parte dos nipo-brasileiros vive em condições precárias. ‘‘Quanto mais alto o grupo de renda, os nikkeis estão mais representados do que a média que teriam de peso na população, mas se eu considerar os rurais nikkeis, estes estão pior que a média Brasil’’, salienta. ‘‘Temos um esteriótipo de nikkei empreendedor, que estuda, mas tem um grupo que ficou ligado à terra nos ‘cafundós do Juda’ que estão se atrasando em relação aos outros.’’
  A constatação é considerada pelo próprio pesquisador – que pertence à colônia – como a mais surpreendente do trabalho. ‘‘Fiquei impressionado não com a média, mas com a existência desse grupo excluído do processo de melhoria. Em uma pesquisa anterior, entrevistei um pessoal que estava no Japão e não tinha completado sequer o primário. Eu não conhecia nenhum japonês assim. Foi um choque. Ver que isso existe foi uma das coisas que me motivou (a fazer o estudo)’’, relata. ‘‘Um passo seguinte seria o governo japonês ou a comunidade nipo-brasileira fazer alguma coisa por essas pessoas, o que é uma das características da comunidade nikkei.’’
  De 1960 a 2000, os nikkeis avançaram mais na escolaridade do que média da população. O censo de 1960 apontou que os nipo-brasileiros tinham em média 3,02 anos de estudo, enquanto a população total tinha 1,72 ano. Quarenta anos depois, os nikkeis tinham escolaridade média de 7,15 anos e a população total, 5,28 anos.
  Além de Beltrão, os autores do trabalho – patrocinado pelo Banco Real – são Sonoe Sugahara (IBGE), Maria Helena Uyeda, da Associação Brasileira de Dekasseguis, Rui Hara e Cláudio Seto, ambos da Associação Cultural e Beneficente Nipo-Brasileira de Curitiba.