Curitiba - O ponto de partida para o estreitamento das relações entre o Brasil e o Japão. É como o cônsul-geral do Japão em Curitiba, Soichi Sato, analisa o centenário da imigração japonesa no Brasil.
  O cônsul-geral concedeu entrevista à FOLHA por e-mail, comentando os laços de hoje entre os dois países - distantes territorialmente, mas próximos dada à integração entre os povos, cuja maior representação é justamente a grande colônia japonesa em terras tupiniquins.
FOLHA - Tendo o Brasil a maior colônia nipônica do mundo, como o povo japonês vê a relação entre os dois países depois de 100 anos de imigração?
  SOICHI SATO - A característica mais relevante que define as relações entre o Japão e o Brasil é, sem dúvida, a imigração japonesa no Brasil. Nestes 100 anos, os imigrantes japoneses e seus descendentes vieram contribuindo para o desenvolvimento do Brasil nas mais diversas áreas, bem como desempenhando o papel de ‘‘ponte’’ para o estreitamento dos laços de amizade entre os dois países, fatos estes reconhecidos pelo povo japonês.
O governo japonês é um grande financiador de obras públicas no Brasil. De que forma é possível estreitar ainda mais os laços entre os dois povos?
  A realização em ambos os países de variados eventos culturais com a apresentação de suas respectivas culturas produz resultados. O intercâmbio humano, de pessoas, também pode ser efetivo, e, nesse contexto, o governo japonês tem oferecido aos brasileiros várias modalidades de bolsas de estudo e cursos de treinamento no Japão. Além disso, as empresas japonesas têm interesse em participar da implantação do trem de alta velocidade (trem-bala) no Brasil, no desenvolvimento da produção de etanol e na difusão da TV digital, incluindo a difusão para outros países da América do Sul. Cooperações de natureza econômica também trazem resultados positivos.
O governo do Brasil estima que mais de 300 mil brasileiros descendentes de japoneses vivam no Japão legalmente hoje. Qual é a condição de vida dos chamados ‘‘dekasseguis’’? O Japão continua preparado para receber imigrantes ou as novas gerações de descendentes, devem ser mais cautelosas ao considerar a imigração?
  Em qualquer país, há pessoas bem sucedidas e outras não, acontecendo o mesmo com relação à comunidade brasileira no Japão. Assim, para se viver bem em um país estrangeiro, o conhecimento do idioma desse país se torna extremamente importante. Da mesma forma, para se levar uma vida feliz no Japão, o conhecimento da língua japonesa é fundamental.
  O senhor acredita que, de algum modo, o Brasil possa interessar a jovens japoneses que tenham interesse em emigrar do Japão?
  Não posso dizer se os jovens japoneses têm interesse em emigrar para o Brasil, mas um grande número desses jovens têm grande interesse pelo Brasil. Em especial, o interesse pela música e cultura, e também muitos jovens vêm estudar no Brasil. Se futuramente as relações econômicas entre ambos os países alcançar o patamar do desenvolvimento das décadas de 60 e 70, o interesse pelo Brasil deverá aumentar ainda mais.
  O Japão vive um fenômeno intenso de ocidentalização, que pode ser testemunhado através de produtos culturais como filmes, quadrinhos e outras obras artísticas japonesas. O senhor acredita que esse é um movimento natural, típico da globalização, ou há algo negativo no abandono de tradições milenares?
  O Japão vem há muito tempo incorporando a cultura ocidental. Entretanto, tem orgulho de sua cultura assim como se esforça para sua preservação. O Japão, ao mesmo tempo que preserva sua tradição e cultura, introduz os aspectos positivos da cultura ocidental.
Como o senhor enxerga os próximos 100 anos de cooperação entre os povos japonês e brasileiro?
  Desejo que o Centenário da Imigração Japonesa seja o ponto de partida para um desenvolvimento ainda maior das relações entre os dois países rumo aos próximos 100 anos. E também tenho a certeza de que as relações de cooperação entre ambos os países, assim como o intercâmbio entre os dois povos, serão fortalecidos nos próximos 100 anos.