Olhos claros e puxados. Pele branca, com poucos pêlos. Fisicamente, Jan Mohrbacher, de 29 anos, exibe traços marcados pela mistura de pai alemão com mãe nissei. ‘‘Não me considero nem alemão, nem japonês. Sou brasileiro, porque cresci e virei homem, aqui. Mas se for para falar sobre uma característica que tenho de japonês é a espiritualidade e meditação. Já como alemão, acredito que seja a determinação’’, afirma.
  Nascido em Neunkirchem, na Alemanha, Jan chegou ao Brasil com 12 anos. Entre os amigos, ele conta que sempre foi visto com curiosidade. ‘‘Lá, os alemães me olhavam diferente, pois eu era considerado latino-português e aqui, alemão com japonês. Uma confusão.’’
  Ele conta que o conflito entre as culturas era presente dentro de casa. ‘‘Enquanto minha mãe preparava comida japonesa e utilizava muitas palavras em japonês, meu pai só falava alemão e fazia questão de preparar pratos típicos’’, diz Jan.
  Mas não é só na aparência que Jan exibe a mistura de japonês com alemão. Em seu bar LustHaus, inaugurado recentemente em Londrina, as duas culturas também se encontram. Enquanto as cervejas são originárias da Alemanha, a decoração fica por conta do toque oriental. ‘‘É a minha cara.’’
  A ‘‘mistura’’ de raças também foi alvo de curiosidade na vida da universitária Marianna Micheleti da Silva, 19 anos. Os olhos discretamente puxados, porém redondos, pouco lembram a família da mãe. Filha de negro com nissei, a moça ri ao observar o espanto das pessoas quando descobrem sua origem. ‘‘Normalmente, elas começam a frase dizendo assim: Você não é filha de japoneses, é? e depois fazem algum comentário. Isso nunca me incomodou. Acho normal.’’
  Segundo ela, o irmão mais velho é filho de um descendente de italianos e, por isso, possui olhos redondos e verdes, a pele branca e o cabelo escuro. Como Marianna, o rapaz de 21 anos também não herdou o sobrenome japonês e nunca é associado à etnia oriental. ‘‘Quando estou com meu irmão ninguém imagina nosso grau de parentesco. Quando eu era criança muita gente achava que eu era adotada’’, lembra a estudante. (Colaborou Betânia Rodrigues)