Em 1965, Jacarezinho (Norte Pioneiro) tinha pouco mais de 10 mil habitantes em sua área urbana e apenas sete advogados trabalhavam na cidade, os quais se ocupavam, principalmente, com casos de disputa por terras e execução de cobranças. Vez ou outra aparecia alguém interessado em conseguir o desquite matrimonial, ou, mais comumente, a anulação do casamento, que permitia ao desafortunado ter novo cônjuge.
Em meio a esse cenário, com os cafezais em seus últimos anos áureos em todo o Norte do Paraná, começou a correr na cidade a reivindicação de que uma faculdade de Direito se instalasse por ali. O governo do Paraná comprou a ideia e, em 1968, embora de forma improvisada em um colégio estadual, as aulas já aconteciam na instituição que levava, por parte de advogados de cidades maiores, o irônico apelido de ''faculdade de beira de estrada''. Anos depois, a mesma faculdade chegaria ao topo entre as que oferecem a graduação em Direito no Brasil.
Quem conta toda essa história é o professor aposentado e advogado Celso Antônio Rossi, um dos fundadores da Faculdade de Direito de Jacarezinho, hoje incorporada à Universidade Estadual do Norte do Paraná (Uenp). ''A cidade queria a faculdade. Tanto é que a prefeitura comprou o terreno e construiu o prédio onde hoje está a instituição. Os professores, na maioria de Jacarezinho mesmo - advogados, juízes, promotores -, também se engajaram. Os primeiros professores lecionaram na faculdade por 20 anos ou mais'', explica Rossi. ''Contudo, naquele início jamais poderíamos imaginar que um dia o ensino oferecido por nós seria considerado de tão alto nível'', completa o pioneiro, referindo-se às avaliações do Ministério da Educação que colocam a faculdade jacarezinhense entre as melhores do Brasil.
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) também reconhece os méritos da instituição, colocando-a em um seleto grupo de menos de 100 cursos de Direito do Brasil que ostentam o selo ''OAB recomenda''.
Questionado sobre qual seria o segredo do sucesso da faculdade, Rossi aposta no empenho dos professores, que, segundo ele, sempre estiveram mais interessados em dar aulas do que em qualquer outra coisa. ''Ninguém queria saber da remuneração, que era pouca. Todos os docentes estavam interessados apenas em ensinar. Depois, a alta disputa por uma das nossas 70 vagas foi ficando cada vez mais acirrada, principalmente a partir de 1975, quando fizemos muitos cartazes e passamos a divulgar o nosso vestibular por toda a região. A alta concorrência também possibilita uma seleção de bons alunos.''
Ainda hoje o número de vagas de graduação oferecido pela faculdade é de 70 por ano. A concorrência dos últimos vestibulares foi de 23 candidatos por vaga, praticamente metade deles paranaenses. Para o atual diretor da instituição, Nassif Miguel, outra coisa que não mudou é o empenho dos professores que, ele diz, continuam não colocando a remuneração em primeiro lugar. Dos 26 docentes, apenas 12 recebem salários do governo do Paraná. ''Os outros são colaboradores'', afirma Nassif Miguel, que prefere não utilizar o termo 'voluntários'.
Além disso, 80% dos professores são ex-alunos da faculdade, a exemplo do diretor, formado na turma de 1973. ''Incentivamos os nossos alunos para que sejam professores um dia, pois serão docentes da instituição que lhes ofereceu o aprendizado'', enfatiza Nassif Miguel.
Também ex-aluno, o professor Jaime Domingos Brito argumenta que o fato de a Faculdade Estadual de Direito do Norte Pioneiro não ter se intimidado ante à ideia de que não poderia avançar por ser interiorana foi fundamental para que a instituição alcançasse a posição de destaque. ''Vimos as falhas desse paradigma e buscamos soluções. Investimos na escola e consolidamos o mestrado, mas ainda é preciso fazer mais'', revela Brito, que dirigiu a faculdade de 2003 a 2008.
Atualmente, o mestrado, conquistado em 2001 sob alguma resistência da Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que achava que um município interiorano de 39 mil habitantes não merecia tanto, é a menina dos olhos da instituição, oferecendo 16 vagas por ano. Agora, o doutorado tornou-se a próxima meta.