Hoje é comemorado o dia de São João. As festas juninas, realizadas para comemorar a data, são responsáveis pelas principais manisfestações culturais do Nordeste. Gastronomia típica e danças folclóricas enchem os olhos dos turistas e promovem a integração e alegria dos nordestinos, além de movimentar o mercado local. No Sul existem festas semelhantes. Atraem menos pessoas mas promovem diversão semelhante. Um exemplo é a festa de São João promovida todos os anos no Espaço Cultural Calamengau, em Curitiba. Realizada no último sábado, a comemoração atraiu muita gente que enfrentou o frio e saiu de casa para dançar o tradicional ritmo
do forró.
  A estudante vinda da Suíça Alexandra Randegger mora no Brasil há 5 anos. Começou a fazer aulas de dança de salão e se apaixonou pelo forró. Atualmente se dedica apenas a este estilo musical, com aulas semanais no Calamengau. ‘‘No meu país a dança que mais se aproxima do forró é a salsa. Mesmo assim é bem diferente’’, conta Alexandra, que confessa já ter arranjado um namorado no local, entre uma dança e outra.
  Uma das professoras de dança da estrangeira, Larissa Loyola, explica que em cinco aulas já é possível se sair bem no salão. ‘‘A mulher deve ser conduzida pelo homem. No forró é ele quem manda. Mas só no forró’’, brinca a professora.
  E tem mais estrangeiro no forró. O estudante paraguaio Bernabe Chena está em Curitiba para realizar um curso. Ele confessa que não sabe dançar o ritmo musical brasileiro, mas diz que existem maneiras semelhantes de dançar no Paraguai. Lá o Kchak e a Polca Paraguaia fazem sucesso. ‘‘Mas não é dois pra lá e dois pra cá. Você dá quantos passos quiser para cada lado’’, ensina Chena.
  O paraguaio levou mais dois amigos conterrâneos para conhecer o gingado das mulheres brasileiras. Outro colega dele é brasileiro, mas logo confessa que não sabe dançar. ‘‘Eu sou muito ruim, mas gosto da música’’ diz Camilo da Silva. Porém, não perde tempo. Em minutos já está dançando com uma carioca que entende da dança. ‘‘Aprendi na rua. Também sei sambar’’, revela Fabiana Ribeiro, que pratica o forró há mais de 10 anos.
  As horas passam e aumenta o movimento na chapelaria. O ritmo da dança esquenta e o frio dá espaço ao suor. O professor paraibano Ismael Camelo já está acostumado com tudo isso. Além de vir de uma região onde as tradicionais festas do meio de ano são referência em todo o Brasil, ele freqüenta o Calamengau há 15 anos. Camelo conta que no Nordeste as comemorações são semelhantes, com tecidos coloridos e muitas bandeirinhas. Mas a dança não é tão parecida. ‘‘Os curitibanos não dançam bem. Sofro para arranjar um bom par’’, conta.
  Para ele, após a popularização do forró, aumentou o número de jovens nas festas. ‘‘O forró socializa e aproxima as pessoas.
É uma dança erótica’’. Talvez este seja o motivo de já ter encontrado muitas namoradas durante os bailes do Nordeste. Mas em Curitiba ele ainda não teve a mesma sorte.
  O bancário João Haroldo Martin e a funcionária pública Elenara Zelinski começaram a namorar há pouco tempo. Eles marcaram o segundo encontro na festa de São João do Calamengau. Para Elenara, o forró é uma boa oportunidade para melhor conhecer o par. ‘‘Eu gosto da dança. Acho sensual’’.
  Algumas pessoas que estão no Calamengau adoram o forró, mas não podem dançar. É o caso da cozinheira Rose Rocil da Silva, que trabalha no local há 4 anos. Antes do baile começar ela separa as porções de batata frita e carne de sol, já que na hora do movimento não tem tempo nem pra pensar. ‘‘Isso aqui fica uma loucura e tem gente sem paciência. Então tem que ser rapidinho’’.
  A cozinheira adora dançar mas tem dificuldade em arranjar tempo, já que possui dois empregos. Durante a semana trabalha em um restaurante. Nas sextas e sábados vai para o Calamengau após o expediente. No domingo, mesmo cansada, não perde tempo e corre para outro baile, mas desta vez apenas para se divertir.
  Outra que explica como funciona as noites de forró é Cida Araújo, uma espécie de faz-tudo do local. Ela entrou há 8 anos para trabalhar na chapelaria. Agora faz tudo que precisa. O que mais gosta no Calamengau é a ausência de brigas. ‘‘O bom do forró é isso. Tem segurança que odeia trabalhar aqui pois quase não tem o que fazer. O namorado de uma dança com a mulher do outro. E não tem confusão’’, conta Cida.
  Em um bom baile de forró todo mundo é igual. As diferentes classes sociais se anulam no ritmo da música e as únicas coisas que contam são a alegria e a coordenação nos passos.