É curioso o panorama atual de algumas artes marciais japonesas no Paraná e também em outros locais do Brasil. A integração é tamanha que em muitas modalidades, mais de metade dos praticantes não são mais nikkeis.
  No sumô nacional, por exemplo, os ‘‘olhos puxados’’ definitivamente não mandam mais. Mesmo sendo um dos esportes mais tradicionais na ‘‘terra do sol nascente’’, aqui o sumô caiu de tal modo no gosto dos praticantes tupiniquins que hoje mais de 80% dos sumotoris vistos lutando nos campeonatos paranaenses e brasileiros são negros, mestiços ou polacos... menos nikkeis.
  Outra modalidade que foi bastante ‘‘ocidentalizada’’ é o judô. O esporte desperta o interesse de lutadores de todas as origens pelo fato de ter virado esporte olímpico. Até mesmo o kendô, que tem forte identificação com a luta milenar dos samurais, hoje é praticado por muitos não-japoneses. ‘‘As equipes do Rio de Janeiro, por exemplo, não têm nenhum nikkei’’, confirma o presidente da Associação Kendô Shinkô-Kai de Londrina, Valter Oguido.
  Para a professora e assessora do Departamento Internacional da Aliança Cultural Brasil-Japão, especialista em cultura japonesa em Londrina, Estela Okabayaski Fuzii, a adesão crescente dos brasileiros aos esportes orientais se deve à simpatia pela discliplina que norteia essas modalidades. ‘‘O cidadão ocidental, e não é só o brasileiro, parece hoje sentir atração ou curiosidade por essas artes, que têm, dentro das suas regras, valores morais firmados na disciplina rígida do ‘bushidô’, o código disciplinar dos samurais’’, comenta.
  Os valores desse código (bushidô), segundo ela, estão presentes não só na educação familiar dos japoneses, mas também nas relações sociais, no esporte e na prática da vida. ‘‘São valores como o respeito ao próximo, a obediência, a hierarquia e a solidariedade’’, diz. ‘‘Penso que essa troca seja muito salutar. Tanto os brasileiros descobrindo os valores virtuosos da cultura japonesa, quanto os nikkeis se integrando ao modo de vida ocidental.’’
  Já a menor participação dos nikkeis nas academias, se deve ao distanciamento gradativo deles das suas raízes, acredita a professora. ‘‘O que aconteceu nas décadas de 80 e 90 é que os filhos e netos de nisseis foram absorvendo muito os valores da sociedade ocidental. Foi ocorrendo não só a miscigenação étnica, como também uma grande integração com o tipo de vida dos brasileiros’’, observa. n