O que tem de interessante a história do Termas Yara, tem de complicado o momento atual do lugar. Um imbróglio jurídico impede que o casal Rafaela e Cláudio Delgado, que comprou da família Matsubara, em 2002, 48 dos 98 alqueires da propriedade, regularize a escritura e coloque em prática o plano de transformar a fazenda em um complexo empreendimento turístico.
A história de Cláudio Delgado, narrada por ele mesmo, desperta interesse. Filho de um boia-fria, ele relata que ajudou o pai a catar algodão nas fazendas de Sueo Matsubara, ainda menino. Aos 18 anos, partiu para São Paulo levando na bagagem só o que aprendera no extinto Movimento Brasileiro de Alfebetização (Mobral).
Na capital paulista, arranjou vaga como contínuo de um empresário que deu-lhe estudo. Virou corretor da bolsa de valores, investiu bem e, desfazendo-se de sua carteira de ações da Ambev, pagou R$ 1,8 milhão na parte da Yara que abriga o lago, a fonte de água termal, o hotel e a capela.
''Cresci em Bandeirantes, vendo aquele tesouro todo que é o Yara. É uma sensação estranha. Sonhei com aquele diamante e hoje ele é meu. Porém, quero lapidá-lo e não posso. Hoje, cuido das ações de um grupo alemão que tem R$ 35 milhões para investir no projeto de restauração e transformação em complexo turístico. Já tenho, inclusive, o plano diretor pronto. Só falta a questão jurídica'', lamenta o ex-catador de algodão.
Em Bandeirantes, há quem não acredite que Delgado tenha prosperado tanto. Mas os fatos mostram que ele e a esposa não estão para brincadeira. Para planejar o futuro do empreendimento, contrataram um casal de arquitetos suíços radicados no interior de São Paulo. E para resolver a parte jurídica um advogado associado de um dos mais tradicionais escritórios de advocacia de Londrina.
''O meu cliente não é um 'laranja', como já chegaram a dizer. Ele tinha condições financeiras sim para comprar a área. Temos inclusive o comprovante de que o dinheiro saiu da bolsa de valores'', destaca o advogado Frederico Vidotti de Rezende.
O advogado explica que Cláudio Delgado fez a compra dos 48 alqueires por meio de um instrumento particular, um ''contrato de gaveta'', direto com Sueo Matsubara.
''O Cláudio fez tudo certo, dentro da lei. Mas quando ele comprou já havia uma pendência jurídica em cima da propriedade, por isso, ele não a registrou. A fazenda toda, com seus 98 alqueires, teria sido arrematada no final da década de 1980 pelo Banestado, por conta de dívidas dos proprietários da época. Então, o senhor Serafim Meneghel teria comprado a dívida em créditos da família Matsubara e conseguiu fazer um acordo com o banco, ficando com parte das terras. Houve um embargo de arrematação por parte da defesa da família Matsubara, que ainda não foi julgado por causa do sumiço de uma carta precatória que foi enviada para a Justiça de Bandeirantes. Ninguém sabe onde esse documento foi parar'', explica o advogado. Com isso 36 alqueires da fazenda atualmente pertenceriam a Meneghel.
Neste meio tempo começaram a aparecer os processos trabalhistas de ex-funcionários de Matsubara. A Justiça do Trabalho mandou as terras da Yara para leilão, mas excluiu os 48 alqueires de Cláudio Delgado do pregão. No último dia 12, os cinquenta alqueires restantes foram leiloados e arrematados por Rafaela, a esposa de Cláudio, por R$ 700 mil. Sueo Matsubara recorreu e cancelou o arremate.
Antes disso, o casal já havia recorrido aos serviços de advocacia de Rezende num embate com a Mitra Diocesana de Jacarezinho, que queria ficar com a capela São Domingos, e para se livrar da invasão de membros do Movimento dos Agricultores Sem-Terra (Mast), que chegaram a agredir o casal e a retirar objetos da sede da fazenda. Doze foram presos acusados de roubo.
O advogado diz que por enquanto não pensa em litígio contra Matsubara e Meneghel, que estariam sendo corretos. Aguarda que a tal carta precatória apareça. ''Ou a boa vontade deles'', como ele diz. Enquanto isso, o casal usa a piscina de água termal com poderes medicinais para criar tilápias. ''Elas engordam muito mais rápido por causa da temperatura'', diz Rafaela. ''Ah! e não esqueça de escrever que sofremos com os caçadores, que entram aqui atrás de capivaras e pássaros'', completa a mulher. (W.S.)