Imagem ilustrativa da imagem Um terço (no bom sentido)


Ontem, na audiência sobre o Dia do Nascituro, na Câmara de Vereadores de Londrina, testemunhei dois momentos antagônicos: uma imagem paradisíaca e uma imagem infernal.

A cena do Céu foi a oração do terço diante do Santíssimo, levado à Câmara pelo padre e teólogo José Rafael Solano Duran.

A cena do inferno foi a performance de ódio dos grupos abortistas, que rugiram furiosamente durante a audiência, numa demonstração de ódio rara vez vista em nossa cidade.

Enquanto uma militante gritava palavras de ódio contra o vereador que presidia a sessão, silenciosamente mostrei a ela o pequeno crucifixo do meu terço. Era um pedido de paz, mas assim não foi compreendido por outra militante, que zombou:

— Você é ridículo, cara! Mostrar o seu terço? Você é ridículo!

Assim a oração do terço é vista pelos militantes que ajudaram a destruir o País. O único terço que alguns deles parecem compreender é o da propina (obviamente, quando praticada por companheiros).

A propósito do terço, publico a seguir uma crônica do meu amigo Orlando Tosetto Jr., que todos os dias reza o terço na rua, a caminho do trabalho, na cidade de São Paulo. Conheço o Orlando os tempos da internet discada e do barulhinho do modem. Um de seus poemas, "Apologia", marcou-me bastante durante o período de minha conversão, no começo dos anos 2000. De lá para cá, tenho acompanhado os seus comentários nos blogs e nas redes sociais, e não me arrependo nunca.

Veja o que ele tem a dizer sobre as alegrias e dificuldades de um rezador de terço na metrópole:

Meu caro Paulo: faz parte — você sabe — das obrigações do Católico rezar pelo menos um terço todos os dias. Agora, pensando bem, já não sei se se trata de obrigação propriamente dita, ou se de algo tão bom e salutar que tem, por isso, a força de uma obrigação; mas não importa. Reze o Católico um terço por dia, ao menos, e terá cumprido com um dever.

Eu não sou tão bom Católico que o faça todos os dias; falho e falto muito mais do que deveria. Inclusive no modo de o rezar: eu deveria seguir o conselho de Nosso Senhor e rezá-lo em meu quarto, fechada a porta em segredo (Mt 6, 6). Mas moro em São Paulo: saio do meu quarto muito cedo e às vezes volto a ele tão tarde e cansado que, se esperasse tanto, ainda mais falho e falto eu me tornaria. Além disso, os bons padres responsáveis pelo meu catecismo tardio me diziam que era perfeitamente legítimo que eu o rezasse no caminho do trabalho, ou na volta para casa, na condução. "São meros vinte minutos, não custa nada." E, de fato, não custa.

Ora, eu tenho um problema de saúde, a pressão alta, que me obriga a alguma atividade física diária, que eu cumpro da seguinte maneira: atravessando a Paulista a pé, de manhã, no rumo do trabalho, ou descendo a Angélica a pé, à noite, voltando para casa. Os caminhos têm mais ou menos o mesmo comprimento (três ou quatro quilômetros), gastam a mesma meia-hora, e tomar um ou outro depende do aperto do dia. É frequente, pois, que eu una as duas necessidades, a de caminhar e a de rezar. Daí que eu possa ser visto em qualquer uma das duas avenidas, caminhando com o terço na mão direita.

Fazendo isso ao longo dos últimos três meses, mais ou menos, dei causa a algumas reações. Por duas vezes, na Angélica, mulheres protestantes me admoestaram em voz alta. Uma delas me disse que "rezar é só pra DEUS, viu, meu irmão?!", e a palavra "Deus" soou desse jeito mesmo, em caixa alta. A outra me convidou a meditar nos alertas de Salomão contra a idolatria — alertas que, se não me engano, estão num livro do Antigo Testamento (o da Sabedoria) que foi extirpado da Bíblia deles.

Um terceiro era um catador de papelão que puxava seu carrinho Angélica acima e, ao me ver de terço na mão, sorriu e disse: "Olhe o meu!". Olhei para as mãos, e nada; então olhei para ele inteiro e vi, pendurado no pescoço dele, um terço tão grande que a cruz lhe batia na boca do estômago. Sorrimos um para o outro, e cada um foi pro seu lado.

Com base nisso, dá para dizer que a Avenida Angélica é terreno quase amistoso. Já não é a mesma coisa com a Paulista. E observe que entre a estação do Paraíso, onde eu salto, e a Rua da Consolação, onde fica a repartição em que trabalho, há por quatro Igrejas: a de Santa Generosa, em cuja casa paroquial nosso querido amigo comum Rodrigo Gurgel organiza seus ciclos anuais de palestras; a de Nossa Senhora do Paraíso, melquita; a capela do Hospital Santa Catarina e a Igreja de São Luiz Gonzaga. Fiéis não faltam nesse entorno.

Eis que, no mês passado, ia eu de manhã pela Paulista rezando o meu terço quando, diante do MASP, um sujeito gordo, nada novo, com uns livretos azuis na mão (talvez vendesse sua própria poesia), acenou com a cabeça para mim e disse, com uma coragem fácil como a de quem vai ao zoológico:

— Allahu akhbar.

Fui em frente sem responder nada, mas pensei: será que ele diria "Viva Cristo Rei" diante de um barbudo ajoelhado num tapetinho? Apostar é feio, mas seria barbada que não.

E então veio uma manifestação abertamente agressiva. Eu passava com ele em mãos, rezando, pela Praça Oswaldo Cruz, e um sujeito de barba grisalha, vestindo uma camiseta com o rosto do Che dentro da estrela do PT (mais clichê, impossível — e, no entanto, é a pura verdade), começou a gritar comigo: "Ei, você aí! Você, do terço!". Fiz um joinha para ele com a mão esquerda e continuei andando, enquanto ele gritava: "Cristo não é isso não! Ser cristão não é isso não! Isso é hipocrisia! E o amor pelos pobres?". Parei na esquina, esperando o semáforo fechar, e ele continuou falando até eu atravessar.

Não dei um pio. Rezei com mais atenção, e até com uma certa raiva – reação que teve pouco de fervor e muito de brio ofendido, reconheço com pesar. Não foi um martírio; não posso, a partir disso, me considerar um perseguido da fé. Foi só o segundo incidente desagradável em pouco mais de um mês na mesma avenida. Continuei passando por ali, mais ou menos no mesmo horário, sempre com o terço em mãos. O sujeito está sempre por ali, mas não voltou a me incomodar. Deduzi que, nesse dia, devia estar bêbado ou drogado. Ou talvez não seja bom da cuca.

No entanto, os tempos dão os seus sinais, Paulo. Eu não tenho dúvida de que a coisa vai piorar. Não como uma avalanche, mas como uma garoa que engrossa pouco a pouco até que a gente se veja em meio ao dilúvio e não distinga mais os vultos uns dos outros. Mas isso está previsto.