Imagem ilustrativa da imagem Terror na Semana Santa
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Sento-me para almoçar e o número da mesa é 36. Trata-se do mesmo número inicial dos mortos nos atentados às igrejas cristãs no Egito. Sei que esse número infelizmente aumentou, mas não deixo de registrar a coincidência (mesmo não acreditando em acasos). Uma antiga lenda judaica diz que existem 36 santos ocultos no mundo, os Tzadikim Nistarim. Graças à existência desses 36 homens justos, Deus adia a destruição do mundo. Quando eles não existirem mais, o mundo se acabará, pois o peso dos nossos pecados será maior.

É simbólico, e altamente preocupante, que os terroristas tenham escolhido o Domingo de Ramos para perpetrar os ataques às igrejas coptas. É um claro aviso à comunidade cristã de todo o planeta: os marcados com a cruz serão perseguidos. Chegará o tempo — e na verdade já chegou — em que os justos não terão mais paz. Jesus foi bastante claro quanto a esse ponto: "Não julgueis que vim trazer paz à terra, vim trazer a espada". (Mt 10,34)

Conforme a lenda dos Tzadikim Nistarim, quando um deles morre, outro imediatamente é escolhido para substituí-lo. Eles vivem em completo anonimato, nem sequer sabem que carregam o peso do mundo nas costas. Sempre que um deles se despede do mundo, é bem possível que a humanidade sinta um abalo, como se algo estivesse deixando de fazer parte da estrutura da realidade. Acredito que esse abalo tenha acontecido duas vezes nos últimos dias, com a morte de 72 pessoas (sendo 30 crianças) com gás sarin na Síria e agora com as explosões nas igrejas coptas. Sou obrigado a repetir o que já venho dizendo: a Páscoa e a Antipáscoa estão em guerra.

A morte por crucificação, que o mundo relembra na próxima sexta-feira, é uma morte por asfixia, portanto comparável à de um ataque por arma química. O sangue que banhou o chão das igrejas coptas pertence ao sangue que jorrou no Monte Calvário há 2 mil anos. Nos dois casos, assim como na Paixão de Cristo, morreram inocentes.

A santidade, ao contrário do que se imagina, não é sinônimo de passividade. O amor ao próximo, inclusive o próximo que mora do outro lado do mundo, exige espírito de combate. "Oferecer a outra face", como diz o poeta Joseph Brodsky, não significa fugir por covardia, mas permanecer diante do inimigo e expor a natureza absurda do mal.

A Semana Santa não é apenas um tempo de reflexão e prece, mas, acima de tudo, uma hora de decisão. Precisamos dizer não à matança de inocentes, estejam eles no ventre materno, nas igrejas, nas ruas ou nas casas.

Até quando Deus adiará a destruição do mundo? Não sabemos. Depende dos 36 santos ocultos. Depende também de como saberemos reagir ao terrorismo, essa nova forma de crucificação. E que fique bem claro: sem cruz, não há ressurreição.

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