Há 80 anos, em março de 1937, o papa Pio XI publicou a encíclica "Divinis Redemptoris", uma das mais veementes condenações já feitas contra a ideologia revolucionária comunista. Àquela altura, o comunismo já se mostrava como o terrível sistema que deixaria mais de 100 milhões de mortos ao longo do século XX (por sinal, como profetizou Nossa Senhora de Fátima há exatos 100 anos, em 1917).

A palavra tolerância vem do latim "tollere", que significa "carregar, suportar". Na liturgia da missa católica, Jesus é o Cordeiro de Deus, aquele que tira todos os pecados do mundo, carregando-os e suportando-os no sacrifício da cruz ("Agnus Dei, qui tollis peccata mundi..."). Ser tolerante, pois, é estar disposto ao sacrifício pessoal. A tolerância é sempre um peso. Não precisamos carregar nem suportar aquilo que já faz parte do que somos; o grande teste da tolerância se dá com aqueles que são diferentes de nós.

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A virtude da tolerância, no entanto, possui um limite: o intolerável. Há coisas que não podemos suportar sem compactuar com o mal. Como o papa Pio XI deixa bem claro em sua encíclica, o comunismo marxista é, sob todos os aspectos, a manifestação de algo intolerável. Tão intolerável quanto o nazismo, o terrorismo, a escravidão e o racismo. Isso não significa que o assunto não deva ser estudado. Pelo contrário: é proveitoso conhecer e interpretar os exemplos de Marx, Engels, Lênin, Trotsky e outros. "Comunista é aquele que leu Marx e Lênin; anticomunista é aquele que entendeu Marx e Lênin", dizia Ronald Reagan.

Fico perplexo quando vejo padres e fiéis católicos abraçando ideologias de inspiração marxista e revolucionária. Ao longo da história, os regimes socialistas estiveram entre os mais intolerantes que a humanidade já conheceu em qualquer tempo. Cedo ou tarde, transformam-se em ditaduras sanguinárias, como a que atualmente aterroriza o povo venezuelano. Além disso, um dos cernes da ideologia marxista é o combate a todas as formas de religiosidade não controladas pelo Estado. Na cosmovisão socialista, as únicas divindades aceitas, ao fim, são a História e a Revolução, encarnadas em um Supremo Líder ditatorial.

Quem é católico, não é comunista. Quem é comunista, não é católico. Por isso, quando você vir um padre marxista, saiba que ele é uma contradição em termos. Apontar afinidades entre o comunismo e o catolicismo equivale a buscar a quadratura de um círculo. Lembre-se de Pio XI, que escreveu: "O socialismo, quer se considere como doutrina, quer como fato histórico, ou como ação, se é verdadeiro socialismo, mesmo depois de se aproximar da verdade e da justiça em alguns pontos, não pode conciliar-se com a doutrina católica; pois concebe a sociedade de modo completamente avesso à verdade cristã". E lembre-se de João Paulo II, o santo que, em aliança com Ronald Reagan, ajudou a dissolver a União Soviética: "Devemos defender a verdade a qualquer custo, mesmo que voltemos a ser somente doze".