Imagem ilustrativa da imagem Sinfonia de Londrina
| Foto: Paulo Briguet



Deus fala conosco através do tempo. Ouçam com atenção, meus sete leitores, este silêncio entre as vozes: é o som do verão que está acabando em Londrina.

Alguém dirá:

— Mas o verão ainda não acabou, Briguet!

Oficialmente, não. Pelo calendário, o verão brasileiro só termina em 20 de março. Mas, se a estação fosse uma peça teatral, este seria o último ato. O mais dramático, o mais intenso, o mais revelador. Águas de março.

Muitas coisas devem acontecer neste fim de verão, que é, a um só tempo, coroação de todos os calores, encontro de todas as tempestades, amálgama de todos os poentes.

Adeus, verão. Tentei escapar de você utilizando os mais variados expedientes. Cheguei até mesmo a criar um pequeno inverno dentro de minha casa, mas a conta de luz subiu às alturas. Tentei fazer uma pequena ventania com o ventilador, mas ele se revelou um sopro quase imperceptível na fornalha da magnificência climática. Tentei matá-lo com goles de bebida gelada. Tentei, tentei, tentei — mas você é mais forte, verão. Verão, você venceu.

Adeus, verão. Você testemunhou os meus sofrimentos de pedestre exposto ao sol inclemente. Quantos lenços tive de usar! Quantas horas passei esperando um Psiu que demorava eternidades a chegar! Quantos sorvetes de limão e groselha precisei tomar na padaria do japonês!

Adeus, verão. No fundo, você é a alma de todas as estações em Londrina. Há um verão dentro de cada mês, ainda que seja o julho das antigas geadas ou o agosto dos velhos desgostos. Nesta cidade, há um verão oculto em cada esquina, em cada fundo de vale, em cada rua sem saída. Mesmo nos dias em que precisamos sair de blusa, eis que a tarde nos surpreendente com um verão fora de hora. Alguns têm medo pânico do veranico. Mas não há de ser nada. Você, verão, é nosso irmão.
Eis que outro dia abri a janela, olhei bem para o azul do céu e vi, no desenho das nuvens, algo muito parecido com a pipa que, menino de cidade grande, jamais empinei na infância. Exclamei baixinho, para ninguém ouvir:

— Londrina é uma sinfonia!

Como grande parte do mundo em que vivemos, a palavra "sinfonia" tem origem grega. Literalmente significa "soar ao mesmo tempo". Do ponto de vista musical, sinfonia é uma obra altamente complexa e organizada que forma um ciclo completo: se retirarmos um dos movimentos de uma sinfonia de Beethoven ou Mahler, por exemplo, ficará faltando alguma coisa para a compreensão integral da peça. É esse exatamente o caso da nossa cidade!

Aqui vocês verão muitas coisas, meus amigos. Verão um sol que parece mais quente, um céu que parece mais azul, uma terra que parece mais vermelha.

Aqui vocês verão alguém que caminha pelo centro da cidade, debaixo de um calor tão forte que, desconfio, nem os termômetros poderão medir. Vocês verão que o maior calor de Londrina está no coração.

Mas só escutará quem tiver ouvidos de ouvir.

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