Imagem ilustrativa da imagem Santo, Santo, Santo
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Em uma coleção de sermões no século XIII, encontra-se a seguinte preciosidade: "Porque o nosso coração é intranquilo e infelizmente poucas vezes consegue viver num estado de harmonia consigo mesmo, foi por isso que foram criadas as imagens, para que o Homem encontre as suas emoções."

As imagens fazem parte do mundo criado por Deus e como tal não podem ser rejeitadas (a não ser que você seja um gnóstico). Vale lembrar que imagens, no presente sentido, não constituem objetos de adoração, mas sim instrumentos de consolação. Isso inclui todos os tipos de imagens: visuais, sonoras, intelectuais, sensíveis, simbólicas e poéticas. Através do cultivo das imagens — em uma palavra: da imaginação — encontramos o caminho para as três irmãs que este cronista de sete leitores jamais deixa de mencionar: a verdade, a bondade e a beleza.

Neste final de ano andei relendo versos da minha amada Adélia Prado, maior nome vivo da poesia brasileira. Em três poemas do livro "Miserere", lançado em 2014, a escritora cristã de Divinópolis utiliza uma imagem poética de atordoante simplicidade para referir-se ao mistério da Santíssima Trindade, o Deus Uno e Trino que não é uma solidão, mas uma convivência, uma família. No poema intitulado "O Pai", Adélia diz:

"A seus afagos não sei como agradecer,
beija-flor que entra na tenda,
flor que sob meus olhos desabrocha,
três rolinhas imóveis sobre o muro
e uma alegria súbita,
gozo no espírito estremecendo a carne."

Foi isso mesmo que vocês leram, queridos sete leitores! Adélia usa a imagem de três passarinhos pousados no muro para representar a irrupção da eternidade no tempo. No poema "Do Verbo Divino", ela volta à carga, desta vez da maneira mais clara possível:

"Três aves juntas limpam-se as penas
e param imóveis
no mesmo instante em que intento dizer-me
da perfeita alegria.
Ninguém acreditará,
me empenho em fechar os termos
desta escritura difícil
e estão lá as três,
estáticas como a Trindade Santíssima."

Com a sua maravilhosa incapacidade de escrever uma só frase óbvia, um só lugar-comum, um só clichê, a sábia de Divinópolis toma o leitor pelas mãos e o conduz à Terceira Pessoa da Trindade, que é o Espírito Santo, o Consolador, o próprio Amor de Deus:

"Como um bicho respirando perigo,
às profundezas de que sou feita
rezo como quem vai morrer,
salva-me, salva-me.
O zelo de um espírito
até então duro e sem meiguice
vem em meu socorro e vem amoroso."

Os três passarinhos pousados no muro do quintal simbolizam um Deus que realiza sua unidade na complementaridade, jamais na unificação forçada de todas as diferenças. A imobilidade das três aves, que à primeira vista pode parecer alheamento, é o sinal da presença absoluta de todos os tempos num só tempo: agora.

Que 2018 seja esse agora.

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