Imagem ilustrativa da imagem Ruínas de uma ilusão
| Foto: Ricardo Chicarelli/19-10-2016



Segundo o dicionário, a palavra "ruína" significa o ato ou efeito de ruir, de desmoronar. Também designa os restos daquilo que desmoronou ou foi destruído. Por fim, tem os sentidos de devastação ou decadência. Em geral, quando pensamos em ruínas, nossas mentes se voltam para os grandes impérios, cujas obras, mesmo atingidas pelo tempo, são até hoje admiradas como símbolos de poder e majestade. Há algo de sagrado nessas ruínas, algo que nos coloca diante do enigma da existência humana.

No Brasil, infelizmente, nós temos outro tipo de ruína. São as ruínas daquilo que certo dia foi uma promessa, mas não chegou a se concretizar. São os restos da "vida inteira que poderia ter sido e que não foi", como diz o belíssimo verso de Manuel Bandeira. Temos um exemplo desse fenômeno em Londrina. Estou falando das ruínas do Teatro Municipal.

Lá pelo ano de 2004, eu já acreditava que a melhor forma de realizar o sonho do Teatro Municipal seria viabilizá-lo por meio da iniciativa privada. Não se trata de dizer que o governo não pode investir na obra, mas é necessária a participação de empresas idôneas que tenham interesse legítimo em promover a cultura.

Durante algum tempo, permaneci calado, mas um dia resolvi falar. Lembro até hoje os olhares de ódio que recebi quando ousei mencionar a palavra proibida — era preciso dizer baixinho: mer-ca-do — numa discussão sobre o assunto. Os companheiros estrilaram. "Mercado coisa nenhuma! Cultura não é mercadoria! Isso é uma obra de Estado!"

O resultado está lá nas cercanias da Avenida Dez de Dezembro para quem quiser ver. Uma ruína. E uma ruína que, por enquanto, tendo em vista as dificuldades econômicas do País, muito dificilmente deixará de sê-lo em curto prazo. E digo isso porque estou sendo bonzinho, quase poliânico.

Um dos maiores obstáculos para o prosseguimento das obras do teatro, vamos dizer sem rodeios, é que seu principal fiador político encontra-se preso em Curitiba. O partido ao qual ele pertencia também está em ruínas. A organização política que fundamentou a obra acha-se hoje mais preocupada em salvar a própria pele e padece de sergiomorofobia. Fica difícil de fazer teatro assim; parece que os principais atores dessa peça já esgotaram suas falas.

Se pensarmos bem, aquelas ruínas são a síntese das ilusões plantadas pelo grupo que mandou no País durante 13 anos. Não são ruínas que exibimos com orgulho, como os gregos, ou que visitamos com fervor, como os judeus. A nenhum londrinense ocorrerá levar um visitante para mostrar os restos do Teatro Municipal que poderia ter sido e que não foi — a não ser que o visitante seja um daqueles bem indesejados. Mesmo nesse caso, é mais simples colocar uma vassoura atrás da porta.

A deixa agora é nossa. O novo prefeito de Londrina, de maneira sensata, disse que é preciso redefinir o projeto anterior. Continuo achando que isso só poderá parar em pé com a participação de empresas idôneas e apoiadoras da cultura. O resto é silêncio.

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