— Meu nome é Samuel, mas desde criança todos me chamam de Samuca. Cheguei a Londrina em 13 de agosto de 1979. Tinha 21 anos de idade, um sonho no coração e 50 cruzeiros no bolso. Desembarquei na estação ferroviária, após 18 horas de viagem, e fui caminhando até o Bosque. Sabe, eu me apaixonei por Londrina no primeiro momento. É um mistério, esta cidade: aqui a gente tem a sensação de que alguma coisa boa está prestes a acontecer. E acontece!

Já no segundo dia, consegui emprego na loja do Sr. Guilherme, um alemão grande no tamanho e no coração. O salário era de 50 cruzeiros. Todo dia, fazíamos centenas de fotos 3x4 em preto e branco. Certa vez, sugeri ao Sr. Guilherme que comprasse um laboratório para filmes coloridos. "Mas é muito caro, Samuca!" "Não é não, Seu Guilherme. Em São Paulo a gente consegue comprar um laboratório usado por um bom preço." Fomos para São Paulo e compramos o laboratório numa galeria da Avenida São João, perto da famosa esquina com a Ipiranga.

Imagem ilustrativa da imagem Retrato em 3x4
| Foto: Shutterstock



Começamos a fazer fotos de formaturas. Além dos inúmeros bailes de formatura em que atuei como fotógrafo, eu me lembro das madrugadas em claro numerando o "copião" das fotos com caneta nanquim, para que os formandos escolhessem as melhores. Botava um LP na vitrola e ia numerando dezenas, centenas de fotos noite adentro. De repente, ouvia um barulho no corredor. Era o pessoal da loja, chegando para trabalhar às oito da manhã.

No escritório ao lado da loja, havia uma secretária muito bonita. Descobri que se chamava Rozeneri. "Não é pro seu bico, Samuca." Mas eu não desisti. No Natal, mandei-lhe um cartão bem bonito, com um poema e a assinatura: "Um Admirador Secreto". Depois consegui fechar contrato com um baile de formatura de uma amiga dela. Naquela noite, fiz dezenas de fotos da Rozeneri. Logo estávamos namorando. Casamos em 1982; Sr. Guilherme foi padrinho.

Pouco antes do casamento, comecei a atuar como representante de vendas de uma famosa marca de chocolates. Percorria o interior do Paraná com aquela famosa caixinha de bombons amarela; só que os bombons eram de gesso, para não derreter. A cada cidade, eu mandava um cartão postal apaixonado para a Roze. Trabalhei em várias boas empresas. Viajei, aprendi, conheci gente, fiz amigos.

Aos 50 anos, decidi fazer faculdade de Direito. Já tinha conhecimento, mas faltava a graduação. Às vezes, eu viajava o dia inteiro e chegava à faculdade só o pó da gaita. Mas valeu o esforço. Tornei-me um profissional reconhecido na área e hoje também atuo com startups, uma vocação de nossa cidade.

Aquele rapaz que chegou com 50 cruzeiros no bolso não tem motivos para reclamar: não fiquei rico, mas consegui criar e formar três filhos maravilhosos — o Rodrigo, a Carolina e o Vinicius. E ainda tenho sonhos: um dia quero fazer mestrado em Coimbra. Afinal, como londrinense de coração, sempre acho que mais alguma coisa boa está prestes a acontecer...

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