(Texto publicado originalmente em 20 de dezembro de 2015.)

Uma das maiores alegrias na vida de um escritor, talvez a maior, seja a de conhecer os seus leitores. Até a quinta-feira passada, acontecia comigo todos os dias. Eu estava andando na rua, alguém sorria e me parava para perguntar: "Ei, não é você que escreve no Jornal de Londrina?" Seguia-se uma agradável conversa. As pessoas nunca me paravam para reclamar ou criticar; a motivação sempre era o elogio, a simpatia, a gratidão. Com o fim do JL, vejo que perdi, talvez para sempre, esses momentos de alegria. Uma dor que não está prevista na convenção coletiva de trabalho.

Agora os leitores não me param com um sorriso; eles se aproximam com uma expressão de lamento e pesar. "É verdade que o JL fechou?" "É pra nunca mais?" "Como é que nós vamos fazer agora?" Eu, que vivo do ofício das palavras, pouco tenho a dizer. Limito-me a observar que somos as mais novas vítimas da destruição do Brasil.

É certo que perder metade da minha renda familiar não é lá um belo presente de Natal, mas hoje estou mais preocupado com as 50 famílias de funcionários do JL que engrossam os índices de desemprego do governo petista. Esse governo corrupto e incompetente que está matando as empresas em todo o país e transformando a vida dos brasileiros em um inferno. Vivemos a república sindical, a república socialista do Brasil. Quem não admite isso, lamento dizer, está ao lado dos vilões, e não das vítimas. Que vão logo fazer uma passeata em apoio ao Renan Calheiros, atual herói do PT. Fica menos feio.

Durante a crise final do JL, houve até quem culpasse os jornalistas que tentaram costurar um acordo para a sobrevivência da empresa, chamando-os de "pelegos" e "puxa-sacos dos patrões". Não quero mais conversa com quem pensa assim. Se você é um deles e me avistar de longe, por favor, mude de calçada.

Sei que muitos estão alegres com o fato de que eu, ao menos em Londrina, não terei um espaço público para expor minhas opiniões, mas aviso: não vou parar NUNCA. Só me permitirei descansar uma semana no dia em que se oficializar a extinção do Organização Criminosa e a prisão de seus líderes. Nunca pensei que um dia pudesse voltar a citar Nietzsche, mas aí vai: "Tudo que não me mata me fortalece". Com a graça de Deus.

Londrina está em luto com o fim do JL. A cidade perdeu um pedaço de sua vida. Todos lamentam: do porteiro do prédio ao prefeito; do leitor de 102 anos que se alegrava com o Sassá ao empresário que luta pela industrialização da cidade; do padre ao ateu; do pecuarista à bibliotecária; da médica ao engenheiro; do motorista de ônibus ao doutor em física nuclear. Todos choram e lamentam e se revoltam. Todos estão sem chão, assim como eu. Todos sabem: — Hoje é o JL; amanhã seremos nós.

Alguns falam em ressuscitar o JL através de uma cooperativa ou coisa que o valha. Pode ser uma boa ideia, mas apenas terá futuro se implementada de maneira profissional. Não precisamos de um soviete de notícias, ou de uma paraestatal jornalística. Qualquer iniciativa para retomada do JL deve almejar a criação de uma empresa rentável. Sim, uma empresa capitalista. Que dê lucro. Que remunere os seus investidores e assim possa remunerar os seus profissionais. Londrina não quer um pravdazinho, nem uma cartacapitalzinha, nem uma caros amigos vermelhos, nem um boletim sindical. Londrina precisa de mais um jornal de verdade, além do que já existe (e que vive sendo bombardeado pelos companheiros). Para honrar a memória de Délio César, é necessário deixar bem longe aqueles que desde os anos 90 tentaram sabotar o seu sonho, e afinal conseguiram.

Escrevo estas reflexões enquanto meu filho toma soro no Hospital do Coração Infantil. Não se preocupem; ele está bem, não é nada grave, só uma pequena infecção. Fomos muito bem atendidos. Teremos de pagar as despesas, porque nosso plano de saúde não tem convênio com este hospital, mas nada que não possamos honrar, com um pequeno sacrifício.

No entanto, olho para o Pedro — que dorme agora — e fico pensando: qual será o futuro deste menino em um país governado pela corrupção, a mentira e a inépcia? Talvez seja o caso de ir embora. Mas não poderei dizer isso no jornal, ao menos por enquanto.

Um antigo samba popularizado por Chico Buarque dizia: "A dor da gente não sai no jornal". Com a licença do cantor, eu arremedaria: — A dor da gente não sai na convenção coletiva.