Imagem ilustrativa da imagem Reflexões de um aborígene londrinense
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De acordo com o Livro dos Atos, escrito por São Lucas, os seguidores de Jesus foram chamados pela primeira vez de "cristãos" na cidade de Antioquia (atual Turquia), por volta do ano 50. Alguns autores, como o historiador inglês Paul Johnson, defendem a tese de que o termo "cristão" foi utilizado inicialmente de maneira pejorativa para designar aqueles fiéis. No entanto, a comunidade dos primeiros seguidores de Jesus adotou alegremente a denominação, e o termo hoje é universal.

O mesmo se dá com a expressão "pé-vermelho". Nos primeiros tempos de Londrina, essa expressão era um modo pejorativo de se referir aos pioneiros da cidade. Segundo a piada, era possível identificar a presença de um caipira londrinense pelo rastro de terra vermelha que ele deixava nos lugares por que passava. Com o tempo, todavia, a expressão "pé-vermelho" passou a ser usada com orgulho pela maioria dos londrinenses.

"Todo reino deve ser mantido com base nas mesmas forças que lhe deram origem", disse o historiador romano Salústio (século I a.C.). A fidelidade às origens é a característica que mantém viva a sociedade humana.

A cidade de Londrina nasceu de um projeto civilizador, por meio de uma iniciativa empresarial, em torno do qual se uniram povos das mais diferentes procedências. Se quisermos manter viva a nossa cultura, devemos ser fiéis a essa tradição. Somos um povo de acolhimento, não de isolamento. Somos um povo da união, não do partido. Somos um povo do perdão, não do rancor. Somos um povo de fé.

Em vários sentidos, Londrina é um microcosmo da sonhada civilização brasileira. Portanto, da mesma forma que os cristãos e os pés-vermelhos, alegra-me estar sendo chamado de "aborígene" por parte da intelectualidade e da militância local. O termo "aborígene" vem do latim "ab origine", que significa "desde o começo". Se em termos antropológicos a palavra serviu para designar os povos originais de mais diversas regiões do planeta, em termos ontológicos indica perfeitamente aquilo que nós somos: fiéis aos nossos valores formativos. Ser aborígene, nesse sentido, é conservar aquilo que mais amamos — nossa cultura, nossa linguagem, nossos princípios, nossa fé. Em suma, nosso patrimônio espiritual.

Para conhecer melhor as origens remotas da civilização brasileira, e entender a necessidade de conservá-las vivas e dinâmicas, recomendo com entusiasmo o mais recente documentário do projeto Brasil Paralelo. Desenvolvido por um brilhante grupo de jovens intelectuais brasileiros, o Brasil Paralelo é uma forma de trazer à tona as verdades por vezes esquecidas sobre a nossa formação cultural e espiritual. A primeira parte da série "Brasil: A Última Cruzada" reúne pensadores de alto nível como Olavo de Carvalho, Alberto da Costa e Silva, Percival Puggina, Marcus Boeira, Thomas Giulliano, Luiz Philippe de Orleans e Bragança e Rafael Nogueira. O conteúdo gratuito pode ser acessado no site www.brasilparalelo.com.br. Você vai descobrir que também é um aborígene!

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