Reprodução da tela "A Conversão de S. Paulo", de Caravaggio (1601) - Taschen Books
Reprodução da tela "A Conversão de S. Paulo", de Caravaggio (1601) - Taschen Books



Nesta semana, exatamente um dia após o Natal, os cristãos católicos celebraram a festa de Santo Estêvão, primeiro mártir da Igreja. A história de Estêvão é contada no capítulo 6 do Livro dos Atos dos Apóstolos. Ele foi um dos primeiros diáconos da Igreja nascente, atuando na assistência aos desamparados e na pregação da Palavra.

Pouco tempo após a crucificação de Jesus, Estêvão se tornou famoso pela eloquência com que anunciava a mensagem cristã em Jerusalém. Acusado de blasfêmia por algumas autoridades, foi morto por apedrejamento. Em seu julgamento sumário, Estêvão revelou grande conhecimento das Escrituras e respeito pelos Profetas e a Lei, mas os acusadores não lhe deram crédito, chegando mesmo a tapar os ouvidos para não escutar suas palavras.

Não é por acaso que a festa de Santo Estevão se comemora logo depois do Natal. A escolha das datas não se deve à cronologia (como insistem alguns militantes da descrença), mas à simbologia profunda. O martírio de Estêvão nos mostra que o nascimento de Jesus leva necessariamente ao escândalo, à ofensa e à perseguição. Hoje em dia mais de 100 mil cristãos são mortos anualmente por causa de sua fé, enquanto outros milhões, nos países ocidentais, são humilhados, politicamente instrumentalizados e progressivamente reduzidos ao silêncio. Os donos do mundo — estados, fundações, redes sociais, partidos, movimentos ideológicos — deliberadamente omitem o nome de Jesus na esfera pública, e protestam quando ele é mencionado. Nem o Vaticano escapa: neste Natal, uma "ativista" de topless quis arrancar o Menino Jesus do presépio montado em Roma, aos gritos de "Deus é mulher!"


Diante de notícias semelhantes, é impossível não lembrar as palavras de Santo Agostinho no século V da era cristã: "Todos os tempos são de martírio. Não se diga que os cristãos não sofrem perseguição; a sentença do Apóstolo não pode falhar [...]: ‘Todos os que quiserem viver piedosamente em Cristo Jesus sofrerão perseguição’ (2 Tim 3, 12). Todos, diz; não excluiu ninguém, não excetuou ninguém. Se queres verificar se estas palavras são certas, começa a viver piedosamente e verás quanta razão teve o Apóstolo em dizê-las".

O martírio de Santo Estêvão tem uma particularidade que me fala profundamente ao coração. Enquanto o jovem inocente era apedrejado, um outro jovem judeu, chamado Saulo, guardava a seus pés os mantos dos apedrejadores. Esse jovem brilhantíssimo, educado aos pés do grande Gamaliel, era um perseguidor dos cristãos. No entanto, após um maravilhoso acontecimento na estrada para Damasco, converteu-se à fé em Jesus Cristo e tornou-se o grande anunciador da Boa Nova em todo o mundo. O jovem Saulo é o grande São Paulo — e a sua conversão nos mostra a essência do perdão, força que move o universo inteiro.

Que as histórias de Santo Estêvão e São Paulo — cujos caminhos se cruzaram um dia — nos impeçam de tapar os ouvidos e fechar os olhos diante da verdade, da bondade e da beleza.