Na vida de um militante político, há sempre o momento em que lhe pedem para deixar de ser um mero bocó e se tornar um canalha. Se o militante é ator, pedem a ele que interprete um papel blasfemo. Se professor, pedem a ele que transforme sua aula em sessão de aliciamento infanto-juvenil. Se jornalista, pedem a ele que minta em nome da "causa". Se religioso, pedem a ele que transforme a sua fé em agenda socialista. Se mãe, pedem que defenda o aborto. E assim por diante.

Em suma, a ideologia quer fazer de você um escarnecedor. Escarnecedor é aquele que zomba deliberadamente da verdade, da beleza e da justiça. Durante sua vida pública, Jesus foi ridicularizado diversas vezes. Riram quando ele pregou em sua cidade de origem, Nazaré. "Mas esse não é o filho do carpinteiro?" Riram quando ele foi acordar a filha de Jairo, supostamente morta. Riram antes da ressurreição de Lázaro. Riram os que o flagelaram. Riram os que lhe puseram uma coroa de espinhos e o "saudaram" como rei. Riram os que disseram diante da cruz: "Salvou a outros e a si mesmo não pode salvar!"

Imagem ilustrativa da imagem Quem ri por último
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A ideologia política quer acima de tudo que você zombe da própria realidade. Muitos, por exemplo, dizem que Jesus era "socialista". Os que assim pensam, além de cometer uma aberração conceitual, convenientemente esquecem-se do que disse Judas, pouco antes de trair Jesus. Ao ver Maria, irmã de Lázaro, despejar um frasco de perfume caro aos pés do Mestre, Judas criticou-a: "Por que não se vendeu este perfume por trezentos denários para dar aos pobres?" O evangelista João esclarece em seguida que Judas assim falava não porque gostasse dos pobres, mas porque era ladrão e traidor. Se havia algum "socialista" em Betânia naquele dia, certamente não era Jesus, que disse: "Deixa-a; ela conservará esse perfume para o dia da minha sepultura! Pois sempre tereis pobres convosco; mas a mim nem sempre tereis".

Na semana passada, vi um homem trabalhando ao sol. Ele arrancava, uma a uma, as ervas daninhas ao longo de uma calçada de cem metros. Admirei o esforço daquele trabalhador. Quem seria insano a ponto de zombar do seu trabalho? Pois é exatamente isso que fazem os escarnecedores diante da realidade e do próprio Deus, que a criou. Eles riem. Riem como hienas. Riem como os flageladores e os zombadores diante da cruz. Assim como existe um pranto de alegria, existe um riso do mal. E eles riem.

"Deus se manifesta sobretudo perdoando e praticando a misericórdia, porque, por essas ações, se mostra que tem o supremo poder: perdoa livremente os pecados", escreveu S. Tomás de Aquino. Eu sei disso porque ri durante muito tempo — e mesmo assim fui perdoado. Riria de mim mesmo se me visse rezando o terço na rua, como faço hoje. Riria de mim mesmo fazendo o sinal da cruz diante da igreja. Riria de mim mesmo escrevendo essa crônica de alerta aos escarnecedores. Porque penso neles todos os dias, porque rezo por eles todos os dias. "Levai as almas todas para o Céu, e socorrei principalmente as que mais precisarem."

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