Imagem ilustrativa da imagem Por que rezo o terço


Sei que alguns não conseguirão conter o riso quando eu disser que rezo o terço todos os dias. Mas é a pura verdade — e eu me orgulho muito dessa verdade. A propósito, o terço é um dos pouquíssimos orgulhos que tenho na vida, além de minha mulher e meu filho.

Hoje à noite, com muita alegria, irei ao Terço Jovem, na Paróquia Dom Bosco. Certamente serei o mais velho entre os jovens que lá se vão encontrar. Aos 46 anos, tenho pelo menos o dobro da idade da maioria. No entanto, estou feliz. Rezar o terço é sempre bom, é um ato de renovação espiritual do qual não quero abrir mão nunca.

Os benefícios da oração do terço são incalculáveis. Ele é uma espécie de remédio universal, de chave-mestra para as dificuldades da vida. Se estou triste, rezo o terço. Se estou alegre, rezo o terço. Se estou em dúvida, rezo o terço. Se preciso de entusiasmo, rezo o terço. Se preciso de calma, rezo o terço. Se sinto gratidão, rezo o terço. Se sinto angústia, rezo o terço. Se estou cansado, rezo o terço. Se estou descansado, rezo o terço. E, se minha memória não estiver boa, rezo um terço para lembrar de rezar o terço.

O que mais gosto no terço é o seu íntimo, fascinante e amoroso vínculo com a estrutura da realidade. Rezando os mistérios do terço (Pai-Nosso, 10 Ave-Marias, Glória) descobri que aquelas contas abarcam todas as passagens da nossa vida. Entendi que a biografia do ser humano necessariamente passa pelos mistérios da alegria, da dor e da glória, e também da luz. Rezar o terço é fazer parte das cenas que marcaram a vida de Jesus em sua passagem pelo mundo. Não há ninguém que viva sem as alegrias da Anunciação, Visitação, Natal, Apresentação no Templo e Reencontro do Menino Jesus. Não há ninguém que desconheça por completo as dores do Getsêmani, da Flagelação, da Coroação de Espinhos, do Calvário e da Cruz. Não há sentido na existência sem as realidades da Ressurreição, Ascensão, Pentecostes, Assunção e Coroação de Maria. E fica para sempre no escuro quem ignora o Batismo, as Bodas de Caná, o Anúncio do Reino, a Transfiguração e a Eucaristia.

Rezar o terço é entrar em contato com as pessoas que nas três dimensões do tempo repetiram e repetem e repetirão as mesmas palavras e as mesmas súplicas em idiomas diferentes, lugares diferentes e circunstâncias diferentes. Sempre há alguém no mundo rezando um terço. Você nunca está sozinho nessa oração, pelo simples fato de que Jesus — a palavra central da Ave-Maria — está ao seu lado. Ele ouve e transforma as orações em rosas para a Mãe.

Quando rezo o terço, volto aos meus tempos de infância em São Paulo, Araçatuba, Mirandópolis. A cada conta, ouço novamente as vozes e sinto os perfumes daqueles que já nos deixaram.

Cada Ave-Maria do terço corresponde a um Salmo. Sempre que terminamos um Rosário — três terços — é como se tivéssemos cantado os 150 Salmos da Bíblia. Há quase dez séculos, quando São Domingos introduziu essa oração na vida da Igreja, poucas pessoas sabiam ler. O Rosário era — e continua sendo — uma forma de encontrar a Palavra de Deus de modo simples e direto.

O terço é mais do que uma oração; para mim, ele é uma biografia. Quando estou rezando, estou vivendo.

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Quem chora agora em algum lugar do mundo,
sem razão chora no mundo,
chora por mim.

Quem ri agora em algum lugar da noite,
sem razão se ri na noite,
ri-se de mim.

Quem anda agora em algum lugar do mundo,
sem razão anda no mundo,
vem para mim.

Quem morre agora em algum lugar do mundo,
sem razão morre no mundo,
olha para mim.

(Rainer Maria Rilke)