Imagem ilustrativa da imagem Olinda de Londrina



No próximo dia 5, dona Olinda completaria 106 anos. E não pense que isso seria assim tão difícil: a pioneira londrinense Olinda Balan nos deixou há pouco mais de um ano, dois meses antes de completar 105.

Uma de suas filhas, a Irmã Fernanda, certa vez lhe perguntou:

- Mãe, quem é você para nós?

- Herança de Deus.

Quarta filha de 14 irmãos, Olinda nasceu em 5 de outubro de 1911, em Capivari, perto de Campinas. Seus pais, Antônio Charantola e Eugenia Guitti, possuíam um sítio no pequeno município paulista. Ela se casou com Luiz Balan, também filho de agricultores, antes de completar 20 anos. Tiveram nove filhos: Elza, Carmelindo, Leonel, Waldemar, Tereza, Luiza (mais tarde, Ir. Fernanda), Antonieta, Frederico e Maria Eugênia.

Olinda e Luiz Balan chegaram a Londrina em 1938. Enquanto Luiz vendia bebidas percorrendo a região com uma carroça (mais tarde abriria uma distribuidora de refrigerantes), Olinda cuidava da família e do espírito. Moradora da Avenida Paraná desde o tempo em que esta era apenas um caminho de terra, por onde passavam até boiadas, criou os filhos entre o lar, a escola, a prefeitura e a igreja. Quando não estava cuidando da família ou fazendo algum trabalho de caridade, estava rezando, pedindo a Deus pelos familiares e pelos mais humildes.

Tinha um olhar especial para os pobres. Todos os dias, às seis da manhã, participava da missa na Igreja Matriz, mais tarde Catedral. Certa vez, ao sair da missa, conheceu uma senhora extremamente humilde, dona Maria. Levou-a para casa. Maria tornou-se uma amiga da família, com bondade e simplicidade desconcertantes. Certo dia, dona Maria desapareceu. Olinda percorreu todas as vilas da cidade em busca da amiga. Quando finalmente a encontrou, foi recebida com um sorriso de alívio e contentamento:

— Dona Olinda, vancê veio. Que bão que me achou.

Olinda foi uma das primeiras integrantes do Coral Santa Cecília, primeiro grupo musical da cidade e um dos mais antigos do Brasil, até hoje ativo. Participou ativamente dos trabalhos de caridade realizados pela Igreja Católica junto à população carente. A Igreja Matriz, a Santa Casa, o Colégio Mãe de Deus e outras instituições históricas da cidade eram como que um prolongamento do lar de dona Olinda.

O maior patrimônio de uma cidade são as pessoas que nela vivem. Olinda Balan, a querida dona Olinda, é um retrato de Londrina nas suas melhores qualidades: ambas são acolhedoras, generosas, trabalhadoras, artísticas, espiritualizadas e profundamente ligadas à família. Numa palavra: Londrina e Olinda são cristãs.

Não foi por acaso que, cinco depois de sua morte, uma procissão luminosa parou diante da casa de dona Olinda, na Avenida Paraná, e fez um minuto de silêncio e contemplação. Naquele momento, todos tiveram certeza: a herança de dona Olinda é a eternidade.

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