Imagem ilustrativa da imagem Ocupem a biblioteca
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Ocupem a biblioteca, moçada. Há muitos anos eu venho fazendo essa ocupação e posso garantir: vale a pena. Esqueçam o #foratemer, esqueçam o sarau, esqueçam a rodinha, esqueçam o rap, esqueçam a ideologia de gênero, esqueçam as palavras de ordem das feministas, esqueçam os discursos dos militantes da UEL e da APP. Nada disso é melhor do que a biblioteca.

Estive lá, sempre estou lá. A biblioteca tem tudo, é outra civilização. Na biblioteca vocês vão encontrar os livros de T. S. Eliot, o maior poeta do século 20, nascido nos Estados Unidos. Cá entre nós, Eliot é o verdadeiro Bob Dylan. "O tempo presente e o tempo passado / Estão ambos talvez presentes no tempo futuro / E o tempo futuro contido no tempo passado (...)"

Por falar em gênios, havia um grande poeta cego chamado Jorge Luis Borges. Era conservador e argentino, por isso os professores militantes não falam muito dele. Lembro-me da emoção que senti ao ler um livrinho chamado "Ficções" pela primeira vez. Esse livro está na biblioteca, sei até o lugar dele na prateleira. Borges imaginava o Céu como uma grande biblioteca. Não por acaso, as bibliotecas e as catedrais quase sempre ficam próximas! É só atravessar a rua.

Na biblioteca vocês vão encontrar um livro chamado "Arquipélago Gulag", escrito por Alexander Soljenítsin, sobrevivente dos campos de concentração soviéticos. Nessa obra ele explica direitinho como é que funciona o socialismo real — inclusive os assassinatos, a tortura, a censura e a fome. Se quiserem conhecer um pouco do socialismo tropical, leiam o livro "Antes que anoiteça", do escritor Reinaldo Arenas, em que ele conta como os homossexuais, intelectuais e trabalhadores são tratados na Cuba de Fidel. Para entender ainda melhor o assunto, leiam "A Revolução dos Bichos".

Para os jovens que gostam de teatro (mas para todos os outros também), recomendo fortemente a leitura da peça "O Rinoceronte", de Eugène Ionesco. No enredo, as pessoas começam a se transformar voluntariamente em rinocerontes apenas para "seguir a onda". Trata-se de uma das mais contundentes denúncias contra o totalitarismo e a escravidão mental em todos os tempos.

Durante a ocupação da biblioteca, não deixem de ler os nossos grandes poetas: Drummond, Bandeira, Cecília, Jorge de Lima, Bruno Tolentino. E os nossos grandes prosadores: Machado, Euclides, Graciliano. Mas também não se esqueçam do "Triste Fim de Policarpo Quaresma", de Lima Barreto, em que o protagonista se deixa destruir por acreditar numa terrível mentira política.

Por fim, não deixem de ler os esquerdistas talentosos. Por mais que mintam, às vezes eles não conseguem deixar de dizer a verdade. Um exemplo é o meu velho conhecido Trotsky, que escreve: "Em um país cujo único empregador é o Estado, oposição significa morte por fome. O velho princípio ‘Quem não trabalha não come’, foi substituído por um novo: "Quem não obedece não come’".

Ah, só um detalhe: ocupem, não invadam.

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