Imagem ilustrativa da imagem O que 2018 espera de você?
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Desde criança eu me pergunto por que o Natal e o Ano Novo são separados exatamente por sete dias. Depois de tantos anos, acho que comecei a encontrar uma resposta. Sete dias – em termos simbólicos, não cronológicos – foram o tempo necessário para Deus criar o universo. O nascimento de Jesus, situado uma semana antes do início do ano astronômico, parece estar dizendo que o tempo espiritual precede o tempo físico. O céu vem antes da terra; o espírito vem antes da matéria; o Salvador do mundo vem antes do próprio mundo a ser salvo.

Por sinal, é exatamente isso que São João nos diz no maravilhoso prólogo do seu Evangelho: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava em Deus, e o Verbo era Deus". Retomando a narrativa do Gênesis, o apóstolo que Jesus amava faz-nos pensar que Deus não é apenas um termo, mas uma frase inteira: o Pai criador, o Filho redentor, o Espírito consolador. O início do Gênesis é uma descrição poética da existência perfeita: "No princípio, Deus criou os céus e a terra. A terra estava informe e vazia; as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas. Deus disse: ‘Faça-se a luz!’ E a luz foi feita". (Gn 1, 1-3)

Onde está o Filho nessa narrativa primordial? Ora, é evidente que está na Palavra, no Verbo, na inteligência divina. São João esclarece: "Ele estava no princípio junto de Deus. Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito". (Jo 1, 2-3). O ato da criação, que juntos voltamos a celebrar neste ano que começa, foi um ato de amor e fé do próprio Deus! Jesus nasce antes do Ano Novo exatamente para demonstrar que antes de haver o tempo e o mundo era preciso haver uma Pessoa pela qual o tempo e o mundo seriam feitos.

Também não é por acaso que a Igreja Católica tenha escolhido 1º de janeiro como a Solenidade de Santa Maria, a Mãe de Deus. No dia que marca o reinício dos tempos humanos, festejamos aquela que é a mais perfeita criatura vivente. Pois o Menino que nasceu em Belém não é criatura, é a Palavra pela qual tudo se criou. Ela, no entanto, não é divina; é humana como nós. Mas com uma importante diferença: Maria é cheia de graça. Um dia, ela nos mostrará o caminho: "Façam tudo que Ele disser".

Para ilustrar a importância de Nossa Senhora, um padre contou-me a história do menino que estava no segundo andar de uma casa em chamas. Quando o pai do garoto chegou ao local do incêndio, disse ao filho: "Pode se jogar, meu filho, que eu seguro você". O menino, no meio da fumaça, disse:

— Mas eu não consigo te ver, pai!

— Tu não me vês, mas eu te vejo.

Então o menino foi salvo.

Com Maria, aconteceu o mesmo. Quando aquela jovem judia aceitou ser a Mãe do Salvador, estava se lançando no escuro, entre as densas fumaças do mundo em chamas. Mas ela sabia que do outro lado estava Deus para salvá-la.

O escritor Henry Miller dizia que o importante não é se você acredita em Deus, mas se Deus acredita em você. De maneira análoga, podemos afirmar que o importante não é que você espera do Ano Novo, mas o que o Ano Novo espera de você. Ele espera que você dê um salto para dentro do seu próprio ser, exatamente como fez aquela jovem judia 20 séculos atrás. Ajude-nos, Mãe.
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