Imagem ilustrativa da imagem O maior prêmio de um cronista
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Acabo de receber o maior prêmio que um escritor poderia almejar. Não é o Nobel, nem o Camões, nem o Machado de Assis, muito menos o Jabuti. É apenas um quadro na parede de uma casa de família.

Este cronista de sete leitores tem a honra de anunciar que a sua "Carta a um amigo que foi tão cedo", publicada há alguns dias em homenagem a Márcio Araujo, foi emoldurada por seus pais e colocada na parede da residência da família. Desse modo, o pai e a mãe de Marcinho poderão reler aquelas palavras, olhar aquela fotografia e mais uma vez saber que o filho deles era uma pessoa querida e inesquecível.

Antonio Candido escreveu certa vez: "Não se imagina uma literatura feita de grandes cronistas, que lhe dessem o brilho universal dos grandes romancistas, dramaturgos e poetas. Nem se pensaria em atribuir o Prêmio Nobel a um cronista, por melhor que fosse. (...) ‘Graças a Deus’, seria o caso de dizer, porque sendo assim ela fica perto de nós’".

Talvez alguns amigos conservadores estejam surpresos com o fato de eu citar Candido, um autor de esquerda, mas o que ele disse é a pura verdade. A glória do cronista é a glória da pequenez, da simplicidade, da proximidade. Meu Nobel consiste em saber que amainei, ainda que minimamente, a dor no coração de um pai e uma mãe que perderam seu filho amado. Eis, para mim, a glória a que Machado de Assis se refere numa famosa frase reproduzida na sede da Academia Brasileira de Letras — "Esta a glória que fica, eleva, honra e consola".

Se o que você procura é dinheiro ou poder, aconselho que não se torne um escritor, muito menos um escritor de crônicas. Se você quer uma vida tranquila, sem conflitos ou discussões, a atividade literária também não é aconselhável. Você só deve se dedicar à escrita se possui um amor incondicional pelo idioma e o considera uma estrada para alcançar a verdade — dia após dia, sem descanso, sem concessões.
No final da vida, o poeta e contista americano Raymond Carver (1938-1988) comentou numa entrevista um de seus mais famosos versos: "Todo poema é um poema de amor". Carver disse à entrevistadora:

— Todo poema é um ato de amor, e de fé. Existe tão pouca recompensa para a escrita da poesia, seja monetária ou em termos de fama e glória, que o ato de escrever um poema tem de ser um ato que se justifique em si mesmo e realmente não possua nenhum outro objetivo em vista. Para querer fazê-lo, você realmente precisa amar fazê-lo.

Não sei se Carver já sabia estar doente à época em que concedeu essa entrevista. Mas considero sua resposta como uma profissão de fé na literatura, muito mais potente e profunda do que a adesão a qualquer causa ideológica ou mercadológica. Às vésperas da morte, ele pôde escrever aquilo que todo escritor gostaria de escrever ao final da jornada:

"E você teve o que queria
desta vida, apesar de tudo?
Tive.
E o que você queria?
Dizer que fui amado, me sentir
amado sobre a terra".