Imagem ilustrativa da imagem O jardineiro da esperança
| Foto: Israelly Antunes da Silva/ Divulgação



Israelly tem 14 anos e mora perto do Jardim União da Vitória. Ela participa do projeto Olhares Nova Esperança, desenvolvido por um grupo católico numa das regiões mais carentes da cidade. Há alguns dias, uma amiga, a talentosa fotógrafa Angelita Santini Niedziejko, enviou-me uma das fotos de Israelly. É a imagem que ilustra a coluna de hoje.

Essa foto tem uma pequena história. Durante um final de semana, Israelly e os outros participantes do projeto levaram para casa câmeras analógicas — das antigas, que usam filme — e fizeram uma série de fotografias no ambiente familiar. Angelita pediu aos alunos que retratassem aquilo que significa para eles a palavra "esperança".

Quando a foto de Israelly foi revelada, Angelita notou que o rosto do homem não aparecia na imagem. Perguntou à aluna se havia ocorrido algum problema de enquadramento. Israelly sorriu e disse que não:

— Professora, eu fiz a foto assim de propósito!

Jaime, o pai de Israelly, é jardineiro de profissão. A foto mostra Jaime em ação, operando um cortador de grama no jardim. Mas o rosto de Jaime não entrou na imagem por um motivo simples: para Israelly, o trabalho do pai, de todos os pais do mundo, representa a verdadeira esperança. Ali ela quis retratar o trabalho honesto — sinônimo de esperança.

Quando vi essa foto, lembrei-me imediatamente de Paulo. Meu pai era um jardineiro que cultivava outro tipo de flores, chamadas palavras. De vez em quando eu encontro, no meio de livros ou papéis antigos, alguma frase que Paulo escreveu com sua letra pequena e cuidadosa. Ao longo da vida, meu pai foi espalhando pequenas sementes e cultivando pequenas flores que reaparecem em minha vida, como se viessem do acaso. Mas o acaso, como dizia Léon Bloy, é o nome moderno do Espírito Santo.

As mãos de nossos pais trabalharam para cultivar a vida que hoje existe em nós. Temos o dever de honrar essa herança, protegendo as árvores e flores que eles um dia semearam, impedindo que as pragas da inveja, do desamor e do ressentimento venham a devastar nossa família, nossa casa, nossa escola, nossa igreja, nosso tempo.

Tudo que Deus faz possui um sentido. A morada de nossos primeiros pais foi um jardim, o do Éden. O lugar em que Jesus sentiu o peso de nossos crimes e pecados foi um jardim, o das Oliveiras. O jardim que os nossos pais cultivaram somos nós mesmos — e está em nossas mãos a missão de defendê-lo contra o mal. Eis aí toda a esperança.

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