Imagem ilustrativa da imagem O fantasma de Teori
| Foto: Andressa Anholete/AFP



Quando o caos domina a vida pública, a mais sábia atitude homem é garantir a ordem da própria alma. Somente a partir de um sólido fundamento espiritual será possível ao indivíduo enfrentar as adversidades do mundo externo. Por isso, diante da tragédia que ceifou a vida do ministro Teori Zavascki, cabe a todos nós um gesto de compaixão e respeito pela dor dos familiares e amigos. Ainda que uma das vítimas do desastre em Paraty seja o juiz responsável pelo maior caso de corrupção da história da humanidade, devemos entender que a morte, antes de mais nada, nos oferece uma chance de sermos humanos: carne, osso e principalmente alma.

Ao receber a notícia da morte de Zavascki, veio-me à lembrança um verso do poeta brasileiro Mário Faustino (1930-1962): "Sinto que o mês presente me assassina". Em seguida, como se fosse uma resposta, soou na memória o verso de um outro poeta morto precocemente, o galês Dylan Thomas (1914-1953): "E a morte perderá seu domínio". A voz de Dylan ecoa a promessa dos apóstolos de Cristo, que anunciaram a vitória da ressurreição sobre a morte.

Já disse muitas vezes aqui não acreditar em coincidências. Na verdadeira vida, como na verdadeira poesia, nenhum elemento existe por acaso. Portanto, não me peçam para esquecer que o prefeito Celso Daniel foi assassinado no dia 18 de janeiro, exatamente 15 anos e um dia antes de o corpo de Teori Zavascki ser retirado sem vida do mar de Paraty. Esses dois corpos, separados pelo tempo, náufragos do mar de corrupção que afoga o país, estarão para sempre no meio do caminho que chamamos história.

Pessoalmente, acredito que a probabilidade lógica de que Teori Zavascki tenha sido vítima de um "acidente" é a mesma de que a morte de Celso Daniel (e de outras 7 pessoas depois dele) tenha sido um "crime comum". Simplesmente não consigo escrever essas palavras sem confiná-las entre aspas.

Celso e Teori são dois fantasmas que insistirão em nos questionar perante o tribunal da história. O maior erro agora seria cair no niilismo e na atribuição coletiva de culpa. Se ninguém vale nada, então devemos ser todos presos. Se todos são culpados, ninguém é culpado. É preciso investigar a fundo e sem medo da verdade o que aconteceu em Paraty. Só um esclarecimento poderá pôr fim ao caos que se espalha por todo o país, dos corredores de Brasília aos 70 mil assassinatos por ano; do abortismo militante à carnificina das facções criminosas; da explosão do consumo de drogas aos assaltos sanguinários. "A impunidade é a mãe da reincidência", disse o capitão Olavo Mendonça. E também é a mãe do caos.

Celso Daniel, Toninho do PT, Eduardo Campos, Teori Zavascki: a realidade brasileira supera em larga medida qualquer "teoria da conspiração". Deixemos a nossa alma em ordem para enfrentar o caos que se avoluma sobre nós, como uma tempestade oceânica: só assim a morte perderá o seu domínio.

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