Imagem ilustrativa da imagem O ex-esquerdista
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Não é fácil deixar a esquerda. Do dia para a noite, você passa a ser acusado de traidor, corrupto, fascista, homofóbico, "pelego", "vendido ao capital", "cachorrinho da burguesia" e outros adjetivos nem um pouco agradáveis. Cessam os convites para festas, encontros sociais e bancas examinadoras. Se você é solteiro e jovem, suas possibilidades de conquista amorosa diminuem drasticamente. Antigos conhecidos trocam de calçada ao vê-lo na rua, negam-lhe aperto de mão. Amigos de muitos anos apelam à chantagem psicológica, ameaçando-o com o fantasma da solidão; logo se tornam ex-amigos. Nos meios acadêmicos e culturais, você vira um pária: fecham-se completamente as portas. Inúmeros personagens influentes riscam o seu nome de seus respectivos caderninhos. Você está só — "mas na sombra os olhos resplandecem, enormes".

O objetivo da esquerda ao isolar o ex-esquerdista é muito claro: transformá-lo em uma não-pessoa. Não é por acaso que alguns colegas escritores, se questionados, dizem ser "de esquerda". Na verdade, querem apenas ser deixados em paz. Antigamente, membros do Partido Comunista eram obrigados a dar as costas a quem abandonasse a militância. Nas organizações terroristas, o preço pela deserção era a morte. Os esquerdistas atuais continuam dando as costas, mas promovem uma nova forma de justiçamento: o assassinato de reputação.

Tenho acompanhado de perto a trajetória de amigos que deixaram a militância esquerdista, desiludidos com o oceano de corrupção que destruiu o Brasil nos últimos 13 anos. O ataque contra eles é maciço, ininterrupto, cruel — embora muitas vezes dissimulado. Tenho um amigo que todos os dias recebe mensagens com diferentes níveis de tortura psicológica: da chantagem emocional adocicada ao xingamento puro e simples, sem esquecer a ameaça e a calúnia.

Grandes intelectuais brasileiros passaram pelo mesmo processo: Paulo Mercadante, Antônio Paim, Carlos Lacerda, Paulo Francis, José Guilherme Merquior, Bruno Tolentino, Rodrigo Gurgel, Olavo de Carvalho. Todos conseguiram vencer a tempestade de insultos e deixaram obras fundamentais. A grande qualidade do ex-militante — e por isso ele é tão odiado — consiste em saber como a esquerda pensa. Ele reflete e age em termos dialéticos, e não apenas lógicos.

Aos amigos desiludidos que pensam em abandonar essa ideologia nefasta, gostaria de dizer duas coisas importantes. Primeiro, o maior problema não é o PT, mas a esquerda. De nada adianta desembarcarmos do PT para aderir a uma de suas linhas auxiliares, pois a esquerda vive trocando de nome. Segundo, é bobagem simplesmente trocar de sinal e virar um esquerdista de direita. Substituir Marighella pelo delegado Fleury não leva a nada. Aproveite a solidão para ler, estudar e meditar. Vale a pena!

E saiba, meu amigo. A esperança não é apenas a última que morre: ela é a primeira que renasce. Você não está só.

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