Imagem ilustrativa da imagem O cronista no tribunal
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— Companheiros, em nome da República Socialista do Brasil, estamos aqui reunidos para julgar o ex-jornalista Paulo Briguet, que teve seu diploma cassado por atividades antirrevolucionárias. Acusado Briguet, o sr. já leu todo o relatório?
— Sim, companheiro promotor.
— E como se declara?
— Culpado, companheiro.
— Peço que atentem para a gravidade do caso, senhores companheiros do júri. Este homem escreveu centenas de crônicas contra o nosso Partido, afirmou que o nosso Líder Máximo chefiava uma organização criminosa e apoiou abertamente o golpe do impeachment contra nossa Presidenta. O sr. confirma tudo isso, acusado Briguet?
— Confirmo, companheiro.
— E como se declara?
— Culpado, companheiro.
— Como o sr. se declara quando o acusam por chamar o socialismo de, abro aspas, sistema intrinsecamente genocida e criminoso, que sobrevive eliminando os oponentes, roubando o país e escravizando o povo, fecho aspas?
— Declaro-me culpado, companheiro.
— Confirma que chamou o nosso Líder de "presidente presidiário"?
— Confirmo, companheiro.
— Confirma que esteve duas vezes na casa do, abro aspas, filósofo, fecho aspas, Olavo de Carvalho, e que era seu amigo e aluno?
— Confirmo, companheiro. E acrescento que li todos os seus livros.
— Como o sr. se declara ante a acusação de ter dito, centenas de vezes, após os acontecimentos que culminaram no triunfo da Revolução, a frase "Olavo tem razão"?
— Culpado, companheiro.
— O que tem a dizer sobre inúmeros artigos em que acusou o glorioso Foro de S. Paulo, orgulho de nosso continente, de vínculos com os narcotráfico e de tentar reconstruir, na América do Sul, o domínio perdido no Leste Europeu após a queda do Muro de Berlim?
— Confirmo tudo, companheiro.
— O sr. se declara igualmente culpado por afirmar que as escolas e universidades se transformaram em centros de lavagem cerebral e formação de militantes?
— Sim, companheiro. Totalmente culpado.
— O sr. confirma que, na juventude, militou no Partido Governante, tendo inclusive atuado como ghost-writer de nossos companheiros, assessor de nossos sindicatos, agitador de nossos movimentos sociais? E que, depois dos 30 anos, tornou-se conservador e traiu a causa da esquerda?
— Confirmo, companheiro. Sou culpado. Culpadíssimo.
— Acusado Briguet, tome cuidado com os superlativos, porque a sua pena também o será. Companheiros do júri, peço agora especial atenção para a seguinte acusação. O srs. já leram os autos, mas é preciso reiterá-la. Como o sr. se declara ante a acusação de ter chamado nossos heróis revolucionários — São Fidel, São Che Guevara, São Carlos Marighella, São Carlos Lamarca — de "assassinos"?
— Culpado.
— Sem mais perguntas, companheiro meritíssimo. Tem algo a acrescentar, acusado Briguet?
— Na verdade, sim, companheiro promotor: — Olavo continua tendo razão.

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