Não é para me gabar, mas já ouvi muita música boa nesta vida. Gosto de trabalhar ouvindo Bach, Beethoven, Mozart, Vivaldi, Haydn, Mahler, Bruckner, Sibelius e Villa-Lobos. Certas frases musicais passaram a fazer parte da minha vida interior, a tal ponto que eu não consigo me imaginar sem elas. No entanto, de todos os sons que já escutei até hoje, nenhum emocionou-me tanto quanto as batidas do coração de meu filho no ventre materno.

Quando ouvi o coração do meu filho, senti que Deus estava falando diretamente comigo. Todas as angústias, as melancolias, as dificuldades e os problemas da vida se justificaram naquele momento. Até mesmo os erros mais graves — como o de não deixar uma criança nascer, na minha tola juventude materialista — encontraram ali, na sala do médico, o perdão e a misericórdia.

Dom Albano — implacável defensor dos direitos do nascituro — dizia que a fé e a ciência são como as asas de um mesmo pássaro. Naquele momento, as asas se moveram harmoniosamente: a tecnologia médica evidenciou-me a maravilha da criação divina. Ouvir o coração do meu filho foi o meu segundo nascimento.

Imagem ilustrativa da imagem O coração do nascituro
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Conheço um homem também que nasceu pela segunda vez. Durante um assalto à sua residência, levou um tiro no coração. Encaminhado às pressas para o hospital, estava entre a vida e a morte, quando alguém levou uma relíquia de Madre Leônia e colocou-a sobre o ferimento da bala. Esse homem sobreviveu por milagre.

Hoje o homem renascido vai acompanhar a votação do projeto que cria o Dia do Nascituro em Londrina. Eu também estarei lá. Na verdade, quando pensamos no nascituro, estamos pensando em todos nós — inclusive vocês, meus sete queridos leitores. Todos fomos nascituros um dia, e de algum modo continuamos a sê-lo durante toda a existência. Um dia, o seu coração bateu exatamente como o coração do Pedro na gestação. É como escreveu o grande Josué Montello no "Diário do Entardecer": "Nossa vida é tão pessoal, tão singular, que não se confunde com a de ninguém, embora tenha o mesmo desenvolvimento natural com o nascimento, a existência e a morte. Cada um de nós é uma invenção de Deus. E invenção viva que o demônio, rindo, tenta desfigurar e perder para poder levar".
É necessário lembrar sempre que o primeiro a saudar Jesus e Maria foi uma criança que estava no ventre da mãe. Assim que Maria entrou na casa de Zacarias e saudou sua prima Isabel, aconteceu algo inesperado: "Ora, quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança lhe estremeceu no ventre e Isabel ficou repleta do Espírito Santo". Quando nós católicos rezamos a Ave-Maria fazemos referência direta ao júbilo de Isabel: "Bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus". É a recordação do dia em que o nascituro João Batista, estremecendo de alegria, saudou a presença de Deus!

Assim como a arte e a ciência nos ajudam a louvar a maravilha da criação, as forças políticas também podem e devem render homenagem ao milagre da vida.

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