Imagem ilustrativa da imagem Ninguém escuta o palhaço
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Tudo que acontece no mundo contemporâneo foi de alguma forma previsto em alguma obra literária do passado. É precisamente este o principal valor da leitura dos clássicos e da tradição sagrada: eles nos oferecem uma imagem compreensível daquilo que está acontecendo na realidade. Sem os clássicos e a Bíblia, as pessoas simplesmente não têm condições de imaginar e interpretar o mundo real, e acabam recorrendo a clichês ou ideias prontas que acham na TV ou na internet. De repente, você está pensando e agindo feito um personagem de telenovela, um político demagogo ou um animador de auditório. Isso causa sofrimentos inomináveis!

Falemos, então, de um pensador vivo que já é clássico. Bento 16, quando ainda era apenas o teólogo Joseph Ratzinger, publicou a obra "Introdução ao Cristianismo", em que faz preleções sobre o credo apostólico da Igreja. A certa altura do livro, Ratzinger cita uma história contada pelo filósofo Soren Kierkegaard. É o triste caso de um circo itinerante que se aproxima de uma pequena aldeia e começa a pegar fogo. O dono do circo, desesperado com o incêndio, pede ao palhaço que vá até a aldeia e peça ajuda aos moradores do lugar. No entanto, os habitantes não acreditam nos apelos do palhaço; acham que é apenas uma estratégia de publicidade para atraí-los até o circo. A incredulidade acaba por ser fatal: depois de destruir o circo, o incêndio se espalha pelos bosques, chega à aldeia e mata a população inteira.

Na leitura de Ratzinger — que publicou este livro no simbólico ano de 1968 —, o palhaço da história corresponde ao cristão moderno, ao homem de fé que enxerga a realidade, mas não encontra interlocutores dispostos a aceitá-la. Meio século depois de "Introdução ao Cristianismo", as verdades da fé são desprezadas pelo ceticismo dos moradores da aldeia global. Mas o incêndio está acontecendo precisamente agora, e se não fizermos nada seremos devorados por ele.

Quando a burocracia do governo quer submeter todas as escolas brasileiras a um controle central, impondo agendas ideológicas totalitárias, é sinal de que o incêndio já está ameaçando aquilo que temos de mais precioso: nossos filhos e nossas famílias. É desalentador saber que até mesmo instituições nominalmente cristãs acabam por condescender com esse golpe contra a população.

São João Paulo 2º foi o grande herói contra o coletivismo e a cultura da morte que se espalham como um incêndio por todos os lugares. Não nos esqueçamos jamais de suas palavras: "Não tenham medo do mistério de Deus; não tenham medo do Seu amor; e não tenham medo da fraqueza do homem e da sua grandeza. Não tenham medo de ser testemunhas da dignidade de cada pessoa humana, desde o primeiro momento da concepção até a morte".