Mãe,
Tenho saudades da sua voz, do seu perfume, do seu olhar, da sua presença.
Tenho saudades das manhãs em que eu acordava e você já tinha feito café.
Tenho saudades das broncas que você me dava quando eu me metia em brigas políticas.
Tenho saudades do tempo em que você ia me buscar na escola.
Tenho saudades dos tempos em que íamos juntos à missa na capelinha do colégio.
Tenho saudades de cantar antes da aula: "Mãezinha do Céu/ Eu não sei rezar/ Eu só sei dizer/ Quero te amar".'
Tenho saudades de você chorando ao se despedir na rodoviária, quando eu voltava para Londrina.
Tenho saudades das histórias que você contava, das suas frases engraçadas, dos seus ditos chistosos.
Tenho saudades das noites em que tocávamos violão e cantávamos na varanda.
Tenho saudades de quando o telefone tocava e era você.
Tenho saudades dos nossos Natais, das nossas Páscoas, dos nossos domingos.
E, de tanto sentir sua falta, acabei me transformando no próprio sentimento. Hoje eu sou o homem-saudade.
No entanto, você não me deixou sozinho. Tenho o Pedro. Tenho a Rosângela. Tenho a D. Elia, tenho a Tia Lia, tenho a Fernanda. Tenho o tesouro das nossas memórias. Mas tenho, acima de tudo e abaixo apenas de Deus, Nossa Senhora de Fátima.
Hoje faz 100 anos que a Mãe de Deus apareceu a três pastorzinhos portugueses na Cova da Iria, em Fátima. Naquele fatídico ano de 1917, ocorreu esse milagre, talvez o maior desde a ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. A mulher vestida de Sol fez-se presente em Fátima e deixou a Lúcia, Francisco e Jacinta uma pequena oração que faço todos os dias: "Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno, levai as almas todas para o Céu e socorrei principalmente aquelas que mais precisarem".
Os irmãos Francisco e Jacinta, videntes mais novos, que morreram ainda crianças (conforme Nossa Senhora havia dito), hoje serão elevados à dignidade dos altares pelo Papa Francisco. A partir de agora, poderemos chamá-los pelo que sempre foram: santos. É certo que em breve a Irmã Lúcia receberá a mesma aclamação.
Desde a infância eu me sinto fascinado pela história de Fátima. A tal ponto que chego a sentir saudades de Francisco, Jacinta e Lúcia, sendo óbvio que nunca me encontrei com eles. Quando você os encontrar aí no Céu, Mãe, mande-lhes um abraço. Um dia estaremos todos juntos, no Jardim de Maria.
A crônica é pequena para uma saudade tão grande. Vou me despedindo por aqui, sabendo que o destino do mundo depende, mais do que nunca, da mensagem de Fátima. O que mais me consola, o que mais me alivia a angústia, mesmo diante de tanta loucura e injustiça no mundo, é saber que tenho duas mães: uma na memória e outra no milagre. Uma de casa e outra de Fátima. Mas ambas, para sempre, no coração.
Com amor,
Seu filho.