Imagem ilustrativa da imagem "Lutamos contra a cultura da morte"



Leia a seguir a entrevista completa com Andréia Medrado, uma das lideranças do movimento pró-vida no Brasil:

Avenida Paraná: Como foi o seu envolvimento com a causa pró-vida?

Andréia Medrado:
Eu sou católica, de São Paulo. Conheci a causa pró-vida, de fato, em 2013, com um projeto de lei complementar 03/2013, que deu origem à Lei Cavalo de Troia, Lei 12.845. Esse PLC foi aprovado da seguinte forma: os defensores do aborto conseguiram fazer uma ressignificação da linguagem de tal modo que o aborto estava ali sem que usassem a palavra "aborto". Houve uma mobilização de várias entidades pró-vida. Na época, pessoas do Brasil inteiro. Por causa do Padre Lodi e do Padre Paulo Ricardo, comecei a prestar mais atenção nisso e me envolver mais intimamente com a causa. A porta de entrada foi a PLC 03/2013. Sou professora de português. Eu era da Paróquia São Tomás More. Acompanhando o Padre Paulo Ricardo pela internet e o site da Monfort, comecei a estudar o tema. Quantas pessoas ele converteu! A internet foi um campo muito frutuoso, algo que ninguém esperava. Com ele, as pessoas começaram a entender em que criam. Foi um novo olhar, uma nova porta. Somos católicos, mas nos convertemos novamente com o Padre Paulo. Sem ele, não sei se teria encontrado ou conhecido o movimento pró-vida. Ele abriu essas portas para a Igreja no Brasil. Sempre houve gente trabalhando, mas o Padre Paulo deu uma dimensão midiática aos movimentos que já existiam. Minha vida mudou. Comecei estudando projetos de lei, mas sabemos que a questão não termina aí. Existe a necessidade de uma meditação profunda sobre as grandes questões da vida. É necessário ordenar todas as coisas para entender a profundidade da causa pró-vida. Não se trata apenas de lutar contra o aborto ou contra a ideologia de gênero, mas de enfrentar aquilo que o papa João Paulo II chamava de "cultura da morte". Essa cultura da morte quer suplantar a civilização cristã. Só conseguimos perceber isso com vida interior, cultivando o desejo de ser sábio e virtuoso. Sem o professor Donato eu não teria aprendido isso. É o que ele no livro que nem sequer assinou. Ele nos ajuda a galgar as moradas do castelo.

Avenida Paraná: Por que eles insistem tanto no aborto?

Andréia Medrado:
Se olharmos toda a história dos movimentos pró-aborto, vamos perceber que eles desejam promover o controle de natalidade em escala mundial. Poderosas instituições e seus ativistas conseguiram mover a história para que o aborto fosse legalizado. Eles moveram a história para tentar convencer as pessoas de que matar seus filhos, matar seus bebês, é uma coisa lícita. Eles fazem isso guiados por um poder econômico sem limites, que construiu fundações e financiou estudos de engenharia social, colocando o aborto como um direito fundamental. Por que o aborto? Porque a gravidez é o sinal mais evidente da família. O que está por trás do movimento pró-aborto é a destruição gradual da família. Por isso, o incentivo à liberação sexual precoce – que eles chamam de saúde sexual. O aborto é só uma parte do desejo de controle absoluto da sociedade, em caráter mundial. Para isso, eles precisam destruir a família. Para as grandes fundações globalistas e os movimentos feministas, a emancipação da mulher passar por tirar dela o desejo de ser mãe. O aborto é a face mais sombria, a arma mais letal nessa guerra contra a família. Eles querem diminuir a população mundial para que as pessoas sejam controladas com mais facilidade, segundo os critérios de uma engenharia social em todo o planeta. Não se trata apenas de incentivar o aborto, mas também a eutanásia – eles atacam os dois extremos da vida. Faz parte do mesmo processo a erotização da infância e a precocidade da vida sexual.

Avenida Paraná: E quais as outras estratégias da "cultura da morte"?

Andréia Medrado:
O programa é muito claro: erotizar a infância; moldar as mentes das crianças (por meio de materiais didáticos e da mídia); incentivar o aborto e a eutanásia; disseminar a ideologia de gênero. E quem são os principais alvos desse processo? Seres altamente suscetíveis: crianças e adolescentes. Se o gênero é algo "flexível", como dizem os defensores da ideologia, você não tem mais pessoas que "são", mas pessoas que transitam entre identidades diversas. É a diferença entre o ser e estar. Judith Butler, em seus livros, deixa isso bem claro: o objetivo da ideologia de gênero é acabar com a ontologia, o conceito de ser aristotélico-tomista. Ela quer fazer crer que todos somos seres em transição, não existe uma identidade fixa para o ser humano. A pessoa pode ir se moldando ao longo do tempo, de acordo com os próprios desejos e ambições. É uma visão de mundo profundamente egoísta. A família é apresentada como uma instituição altamente opressora. É preciso acabar com ela.

Avenida Paraná: Como você viu a decisão da 1ª Turma do STF sobre o aborto, no final do ano passado?

Andréia Medrado:
Pela decisão do ministro Barroso, nós identificamos um alto grau de militância política pró-aborto. Foi uma decisão política e arbitrária. O ministro Barroso tem uma ligação conhecida com algumas das principais militantes pró-aborto no Brasil. Veja o caso que deu origem à decisão: a mulher estava grávida de cinco meses. Eles colocam no voto que o aborto até o terceiro mês não é crime. Ela faleceu em decorrência do aborto, mas como os donos da clínica não quiseram associar a morte da mulher ao aborto, em determinado o cadáver da vítima sumiu e apareceu com um tiro na cabeça. O corpo foi queimado e teve os dentes arrancados. A identidade da mulher só foi reconhecida pelo exame de DNA. Os responsáveis por esse crime hediondo foram presos; mas o ministro Barros entende que eles não oferecem perigo à sociedade.
A decisão da 1ª Turma do STF abre um precedente para que qualquer pessoa entre com uma ação no STF e peça a legalização do aborto. Isso tem nome: ativismo judicial. Os militantes pró-aborto têm entrado com ações para que o aborto seja legalizado — não importa em que mês da gestação. Temos um agravante: um dos ministros do STF assinou um termo garantindo que jamais votaria a favor do aborto. Seu nome é Edson Fachin — e ele votou a favor do aborto.O STF está, na verdade, investindo sobre um território que não pertence a ele. A decisão da 1ª Turma do STF equivale a rasgar o Código Penal. Pela lei, em nenhum caso o aborto deixa de ser crime.

Avenida Paraná: A maioria absoluta da população brasileira é contrária ao aborto. Como o povo pode reagir a essas investidas?

Andréia Medrado:
Nossa estratégia agora é barrar o ativismo judicial. Sempre que projetos pró-abortistas são levados à Câmara dos Deputados, há manifestações maciças contrárias, por parte do povo. O Supremo é o novo caminho que os abortistas escolheram, através do ativismo judicial. Hoje temos um projeto de lei 4.754, que altera a legislação vigente sobre crimes de responsabilidade do presidente, dos ministros do STF e dos senadores. Este PL insere, no artigo sobre os ministros do STF, tem um inciso que qualifica como crime de responsabilidade a intervenção do Supremo no Legislativo. É uma forma de barrar o ativismo judicial. A estratégia é mobilizar as pessoas no Brasil inteiro pedindo que os deputados coloquem esse PL em pauta. E a condenação é o impeachment.

Avenida Paraná: Além da estratégia parlamentar, existe a necessidade de mobilização nas ruas.

Andréia Medrado:
É importante que as pessoas saiam às ruas. A própria presidente do STF, ministra Carmen Lúcia, ficou impressionada com a reação contrária do movimento Pró-Vida. As ruas são importantes porque demonstram o quanto o povo está insatisfeito. O povo é contra o aborto. Por isso, os abortistas perdem na Câmara e no Senado. Esse grupo de poder não está esperando a reação do povo. Não apenas na questão pró-vida, mas em tudo. E eles têm perdido em tudo. O movimento pró-vida era tudo que eles não esperavam: organizado, informado, estudioso — e que consegue desmascará-los. Foi o que aconteceu com quando um militante pró-aborto utilizou dados do Data SUS para chegar à conclusão mirabolante de que existem 1 milhão de abortos provocados por ano no Brasil. Utilizando os mesmos dados, concluímos que esse número não chega a 100 mil. Mas O movimento pró-vida agora conhece as estratégias dos movimentos abortistas. Só usamos as mesmos dados que ELES utilizam. "A melhor propaganda antiabortista é deixar o abortista falar".

Avenida Paraná: Como foi possível vencer a ideologia de gênero na maioria dos municípios brasileiros?

Andréia Medrado:
Recebemos a notícia de que 5.600 municípios aprovariam a ideologia de gênero. E conseguimos derrotar a ideologia de gênero na maioria absoluta dos municípios utilizando só uma arma: a verdade. A verdade é a força que move o mundo. Contra a ideologia de gênero, nós começamos dando palestras, como vozes solitárias. Ninguém entendia o que era isso, até porque eles tentam camuflar a ideia por meio da linguagem. A base dos ideólogos de gênero está em Foucault e Derrida, a redução de tudo a discurso — inclusive o próprio homem. Como tudo é discurso e tudo pode ser desconstruído, tudo pode ser moldado conforme a agenda dos grupos de poder O homem e a mulher são descontruídos. Nós conseguimos desmascarar o que na verdade eles pensam: ninguém é homem ou mulher, todo mundo é o que quiser, de acordo com critérios subjetivos. Imagine uma mãe de família, uma senhora, uma avó... Começamos a dizer isso para as pessoas. De repente, as pessoas começaram a entender que isso era um ataque à família! O gênero é a desconstrução da identidade. Isso moveu a sociedade inteira. E o Brasil foi o único país em que isso aconteceu. Hoje há outros países tentando retirar a ideologia de gênero das escolas – mas já havia acontecido. No Brasil, o que aconteceu foi um milagre.

Avenida Paraná: Andréia, qual é o papel de Nossa Senhora e da Imaculada Conceição em sua luta?

Andréia Medrado: Toda minha vida tem sido regida pela Imaculada Conceição. Em todos os momentos importantes, encontrei os carinhos da Imaculada. Minhas tias rezam o ofício da Imaculada de cor, nunca precisaram de livro. Falar da Imaculada Conceição e falar do apostolado em que eu me encontrei é sinal de Deus. Imagine, lembro sempre de S. Luís Grignion de Monfort: "Foi pela Imaculada que Deus quis salvar o mundo". Não existe outra forma de enxergar os prodígios na minha vida. É Ela que nos conduz na salvação dos bebês, das famílias e das almas. É para isso que trabalhamos. Se não conseguirmos fazer com que as almas se salvem, não adiantou salvar o resto. Cada bebê que nós conseguimos salvar foi pela Imaculada Conceição. Ela se dispôs a carregar o Salvador do mundo em seu ventre, sem garantia nenhuma. Nós também não temos garantia nenhuma. Mas temos uma certeza — a de que o Imaculado Coração de Maria triunfará, como Nossa Senhora disse aos pastorzinhos em Fátima, há 100 anos.