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O filósofo tcheco Jan Patocka dizia que só vale a pena viver por aquilo que você defenderia até a morte. Ele morreu assim, em defesa da liberdade, após um longo interrogatório da polícia secreta comunista. Algo muito semelhante escreveu o filósofo espanhol José Ortega y Gasset, para quem as únicas ideias realmente importantes são as ideias do náufrago, ou seja, aquelas que continuam valendo mesmo se você está se afogando no meio do mar.

Lembrei-me de Patocka e Ortega depois de assistir ao filme "O Destino de uma Nação", que conta a história de alguns dias cruciais na vida de Winston Churchill. Nós não costumamos pensar no assunto, mas o fato é que em maio de 1940 o mundo esteve prestes a sucumbir definitivamente ao nacional-socialismo de Adolf Hitler. Graças à obstinação de um homem — o primeiro-ministro inglês Winston Churchill —, evitou-se o terrível destino. (Para saber como seria o mundo se Hitler tivesse invadido a Inglaterra, leia o livro "O Homem do Castelo Alto", de Philip K. Dick.)

O filme que está em cartaz nos cinemas não conta a história da luta entre o conservador Churchill e o revolucionário Hitler. Isso todo mundo já sabe. O foco da narrativa é o embate entre o recém-empossado Churchill, que defendia a guerra total contra os nazistas, e os pacifistas Neville Chamberlain e Lorde Halifax, que defendiam um acordo com Hitler. "Você não negocia com um tigre quando ele está com sua cabeça na boca dele!", vocifera Churchill, na genial interpretação de Gary Oldman.

Churchill não era um homem religioso. Mas eu me surpreendo ao reler os seus discursos e notar, em algumas passagens centrais, referências ao Criador. Um exemplo importante está no discurso de posse, diante da Câmara dos Comuns, em 13 de maio de 1940: "Vocês perguntam: qual é o nosso plano de ação? Posso dizer: é travar a guerra pelo mar, pela terra e pelo ar, com todo o nosso poder e com toda a força que Deus nos possa dar; travar a guerra contra uma monstruosa tirania jamais suplantada nos registros sombrios e lamentáveis do crime humano. Este é o nosso plano de ação".

Um dos momentos centrais da história é a visita do Rei George à casa do primeiro-ministro. O monarca, antes receoso, pede a Churchill que combata Hitler com todas as forças. Naquela cena, há um forte simbolismo: na tradição literária universal, o rei representa as forças do espírito, o próprio Céu. Só a união entre as forças espirituais e materiais — com o estamento político-militar submetendo-se à primazia do espírito — pode suplantar o poder do mal neste mundo.

Autêntico líder de primeira casta, Churchill mobilizou as forças do idioma e da cultura de seu país numa luta de vida e morte pelo futuro da humanidade. É triste pensar que no Brasil de hoje, à beira do precipício definitivo, não encontremos nas lideranças políticas 1% da inteligência ou do caráter daquele senhor gordo e careca, sempre com um charuto na boca e uma taça de bebida na mão.

De qualquer modo, nunca é tarde para dizer: — Obrigado, Sir Winston Churchill!