Imagem ilustrativa da imagem Guarda meu nome para sempre


De manhã, depois de lavar o rosto e as mãos, percebi que o nome dela estava bordado na toalha: Maria. Meu coração parou por um instante. Na solidão da casa vazia, segurei as lágrimas. Há tanto tempo não nos vemos, Maria. Mas suas fotografias estão espalhadas pelos cômodos da casa; em cada um dos objetos da casa ainda resta, e restará, um pouco do calor de suas mãos e do seu olhar. No quarto em que durmo agora, você rezava baixinho todas as manhãs. Eu me lembro, como eu me lembro. — Minha querida e eterna Vó Maria!

Discretamente, você deixava seu nome nas mesas, nas paredes, nas louças, nas cortinas, nas janelas, no jardim, nas portas, no ar de toda a casa. Com sua agulha de crochê, você também assinava as toalhas de banho e de mesa com estas cinco letras tão fortes e inesquecíveis. Já dizia um santo: "Deus reuniu todas as águas e lhes deu o nome de mar; reuniu todas as graças e lhes deu o nome de Maria".

Penso em você, Vó, quando me ajoelho diante da imagem de Nossa Senhora Aparecida, a Maria que zela por nosso país. Você era uma fervorosa devota da Padroeira. Fez romarias até Aparecida, onde pedia que ela intercedesse por sua saúde tão frágil. Deu certo: você viveu até os 86 anos! Mas eu queria que tivesse sido mais. Mais de 100.

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Quem chegou aos 100 anos, e com uma lucidez impressionante, foi o embaixador J. O. de Meira Penna. Ele era o mais alto representante do liberalismo clássico em nosso país. Escrevia maravilhosamente bem, lutava como herói, tinha coragem e sinceridade em altíssimo grau. Ampliou o horizonte intelectual de várias gerações, inclusive a minha. Nascido no ano do milagre de Fátima e da revolução russa, combateu até o fim o totalitarismo que ainda hoje tenta dominar o Brasil e o mundo.

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Se lamentamos a passagem de um centenário, choramos também o triste fim de um herói menino: Charlie Gard, que nos deixou na sexta-feira. Charlie será para sempre o símbolo de uma luta que tende a se acirrar dramaticamente em nosso tempo: a luta da família contra o Estado, a luta da liberdade contra o coletivismo. A opressão e a tirania estão cada vez mais presentes no mundo moderno, e o que é pior, sob o disfarce dos direitos humanos. Charlie Gard foi uma vítima sacrificial da "nova ordem". Meira Penna tinha 100 anos, Charlie tinha 10 meses. Ambos agora têm a eternidade.

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Quando o poeta Ossip Mandelstam foi morto pelo regime comunista, sua mulher Nadezhda dedicou-se a decorar e guardar todos os poemas do marido na memória. Confiar apenas no papel escrito era arriscado, pois os chacais comunistas estavam sempre por perto. Nadezhda seguiu o pedido formulado por Ossip em um verso: "Guarda minha fala para sempre". Vó Maria, de certo modo, também fez o mesmo pedido. E os nomes de Maria, de Ossip, de Meira Penna e de Charlie Gard não serão esquecidos jamais. Guarda o meu nome para sempre.

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