Imagem ilustrativa da imagem Francisco de Londrina
| Foto: Carmen Kley/Divulgação


Francisco Ontivero veio para Londrina com três meses de idade, no ano de 1933. Melhor dizendo, foi a cidade que veio até ele. Diz a lenda familiar que logo nos primeiros dias o pequeno Chico pronunciou a palavra "água". Acho muito difícil que essa lenda seja verdadeira, porque até hoje ele não pede água: corre dez quilômetros por dia, enquanto nós, pobres sedentários, estaríamos com a língua de fora nos primeiros metros.

Aos seis anos, ele acordava de madrugada para dar comida e água aos dois cavalos que puxavam a carroça do pai, Seu Antônio. Os cavalos se chamavam Gaúcho e Perigoso. Fico imaginando o menino franzino conversando com os animais, enquanto lhes alimentava para que pudessem suportar a lida diária. Até hoje Francisco conta a história dos cavalos aos filhos e netos.

Aos 19 anos, faltou-lhe Seu Antônio. Muito jovem, Francisco viu-se arrimo de família, responsável por cuidar da mãe e dos oito irmãos mais novos. Nem por isso descuidou dos estudos. Nos anos 60, trabalhou como contínuo de banco e contador na famosa Transparaná. Um dia, com a ajuda do irmão Orlando, começou a fabricar e vender estofados nos fundos da casa da família, na Rua Brasil.

Então Francisco conheceu Litério Livotti, dono de uma fábrica de móveis em Apucarana. Abriu uma lojinha na Avenida Duque de Caxias, para atender sobretudo aos colonos que trabalhavam nos cafezais de Londrina e região. A Duque era, por assim dizer, o caminho da roça. Francisco deu à loja o nome de Móveis Brasília, em homenagem à capital federal fundada alguns anos antes.

O negócio prosperou. Francisco e Litério reinvestiam todos os lucros na própria empresa. A parceria entre os dois só terminou com a morte de Litério, no começo dos anos 90. Mas a rede continuou sua trajetória de sucesso e nesta semana completou 50 anos de existência — marca admirável, principalmente considerando as crises e turbulências que o País viveu de 1967 para cá.

Francisco se casou com D. Áurea, cujo nome significa o que ela é para ele: "de ouro". Mãe dedicada e líder amada pelos funcionários, Áurea lhe deu três filhos: Marcelo, Mônica e Fabiana. (Muito me honra ter a D. Áurea entre os sete leitores desta coluna.)

E foi a filha Mônica que me fez uma revelação sobre o Seu Francisco. Até hoje, ele tem o hábito de ser o último a se servir na mesa da família. Recordação do tempo em que era preciso alimentar os oito irmãos menores. Recordação do tempo em que o menino precisava acordar cedo, para alimentar os cavalos Gaúcho e Perigoso. Recordação do tempo em que ele e Litério Livotti reinvestiam quase tudo que ganhavam no futuro da empresa. Essa vocação profunda para fazer o bem ao próximo continua rendendo frutos até os dias de hoje, em que Francisco Ontivero atua como o presidente do Hospital do Câncer em nossa cidade.

Há o Francisco de Assis, o Francisco de Sales, o Francisco de Paula, o Francisco Xavier. Nós temos o Francisco de Londrina.

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