Imagem ilustrativa da imagem Elvis não morreu
| Foto: Paulo Briguet



Caminhar pelo centro da cidade, no intervalo entre dois compromissos, é uma das minhas aventuras prediletas. Encontro o meu amigo Agenor Evangelista, talentoso artista plástico, que me convida para uma nova edição da Mostra Palmares, na Biblioteca Pública. Converso com meu amigo Rodrigo Grota, talentoso cineasta, premiado recentemente por seu filme "Leste-Oeste". Dou um pulinho no sebo e levo dois livros que desejo reler há muito tempo: "Pais e Filhos", de Ivan Turgueniev, e "A Invasão Vertical dos Bárbaros", de Mário Ferreira dos Santos. Passo pela frente do Hotel Bourbon, onde várias gerações de políticos, de todas as tendências, ajudaram a escrever a história da cidade. Ao lado do Bosque Marechal Rondon, sinto o inconfundível odor de fumaça que o transforma na Amsterdã londrinense. Desço a Praça Willie Davids, olho para a estátua do velho prefeito, ganho a Rua Maranhão — e então escuto.

É a inconfundível voz do rei do rock: Elvis Presley canta no final da manhã londrinense. Em todos os passantes, nota-se um sinal de alegria; é impossível não acompanhar o ritmo da canção.

"Let’s rock, everybody, let’s rock
Everybody in the whole cell block
Was dancin’ to the Jailhouse Rock..."

Consulto o relógio e vejo que ainda faltam dez minutos para o meu próximo compromisso. Decido ficar e apreciar um pouquinho do show.

O Elvis londrinense dubla e dança ao sol da manhã. A música sai de uma pequena caixa acústica. Há uma pequena urna para as contribuições dos passantes. Deposito cinco reais para o artista e admiro sua arte. Agora ele interpreta uma canção mais lenta, um tanto melancólica. É uma canção de Natal.

"I'll have a Blue Christmas without you
I'll be so blue just thinking about you
Decorations of red on a green Christmas tree
Won't be the same dear, if you're not here with me..."
Elvis está triste porque vai passar o Natal longe de alguém que ama. Naquele momento, eu pensei em você, Aracy. Você gostava tanto de Elvis, mãe!

Para disfarçar minha emoção, converso com o Elvis londrinense. Ele se chama Orlando e na verdade é de Cambé. Circula por várias cidades paranaenses. Leva alegria para todos os cantos, mas também leva saudades:

"Maybe I didn't love you
Quite as often as I could have
Little things I should have said and done
I just never took the time
You were always on my mind
You were always on my mind..."

A letra da música fala diretamente ao meu coração. Talvez eu não tenha amado você tão bem quanto eu poderia ter amado, Aracy. Talvez eu não tenha tido tempo para fazer e coisas pequenas coisas, mãe. Mas você esteve sempre em minha mente. Esteve e está...

"A eternidade é a posse inteira e perfeita de uma vida ilimitada", escreveu o sábio Boécio. É por isso que Elvis não morreu. E você também não, minha mãe.